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sexta-feira, 30 de abril de 2010

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O ENSINO DO SOLO NO LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA

http://www.uvanet.br/rhet/artMar2008/ensino_solo.pdf



O ENSINO DO SOLO NO LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA1
Cláudio Souza da Silva2
Cleire Lima da Costa Falcão3
José Falcão Sobrinho4
Resumo
Neste trabalho, pretende-se mostrar o estudo do solo nos livros didáticos de geografia do ensino
fundamental II, especialmente quanto ao tratamento do assunto de forma integrada com os demais
elementos das paisagens naturais. A análise foi norteada pelo referencial teórico do estudo da
paisagem, entendido aqui, como o sistema ambiental físico em seus elementos e processos,
distribuídos e desencadeados no ecossistema, proporcionando dinâmica, troca de matéria e fluxo de
energia ao sistema, resultando na formação, desenvolvimento e manutenção do solo. Para tanto,
foram analisados 3 (três) livros. Os autores são: (a) Vesentini, J.W. e Vlach V. (1996); (b) Adas,
M. (2002) e (c) Moreira, I. (2003).
Palavras-chave: Solo, Livro Didático, Ensino de Pedologia
SUMMARY:
This work is intended to show the ground in the study of geography textbooks of primary school II,
especially regarding the treatment of the issue in an integrated manner with other elements of the
natural landscape. The analysis was guided by theoretical reference of the study of the landscape,
understood here as the environmental system in its entirety and physical processes, and triggered
distributed in the ecosystem, providing dynamic, exchange of matter and energy flow of the
system, resulting in the formation, development and maintenance of the soil. For both, were
analyzed three (3) books. The authors are: Vesentini, J.W. Vlach and V. (1996); Adas, M. (2002)
and Moreira, I. (2003).
Words keys: Soil; Textbook; Teaching of pedology
Introdução:
Os conteúdos de solos foram analisados quantitativa e qualitativamente, destacando os
processos de formação, evolução e manutenção do solo e sua inter-relação no sistema natural e
diversificação de classes em função das variações paisagísticas. Algumas propostas teóricas e
práticas são apresentadas no decorrer da pesquisa. Novos mecanismos de abordagem para o estudo
do solo, a considerar sua espacialidade e totalidade, são proposta ao rompimento da abordagem
tradicional e ultrapassada que consideram o solo de forma amostral e homogênea em todas as
partes.
____________________________________________________________________________
1 Pesquisa realizada no Laboratório de Pedologia e Processos Erosivos/LAPPEGEO do Curso de Geografia
da Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA. Apoio: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento
Tecnológico/FUNCAP
2 Bolsista de Iniciação Científica da FUNCAP
3 Professora orientadora e coordenadora do projeto – Análise Estrutural da Cobertura Pedológica no
Município de Sobral/CE
4 Prof. Dr. do Curso de Geografia da UVA e coordenador do LAPPEGEO


No bojo das sugestões práticas, se faz de fundamental importância ao entendimento do
assunto, trabalhá-lo forma real, seja em fotografia, em perfis esquemáticos e de forma mais
completa em atividades de campo.
De maneira geral, os livros didáticos analisados apresentam graves deficiências,
presenciam definições equívocas, pautadas em denominações geológicas e agronômicas para
caracterizar os solos, não dão ênfase ao tratamento dos processos a qual os solo são submetidos
desde a pedogênese até os processos de perdas da massa pedológica. No entanto, merece destaque
por melhor direcionar estudo do solo, em seus princípios básicos, o livro de Adas (2002), na qual
destina maior número de páginas e tece esclarecimentos sobre os processos pedológicos. Por outro
lado Vesentini (1996) simplesmente desconsidera os processos pedológicos dando conotações ao
solo apenas para fins agrícolas pautados na “classificação” de solos férteis ou solos pobres, da
mesma forma que Moreira (2003) apresenta graves deficiências.
O conhecimento sobre o solo
Buscamos na tese de Marcos (1979), o resgate referente a epistemologia do
solo, ele busca de início, o entendimento conceitual quanto ao uso da expressão “Ciência
do Solo”, registrada pelo cientista considerado o pai desta ciência, Dokuchaev. Este termo,
em russo “Potchava-vedzenie”, foneticamente gravado, significa “Conhecimento do Solo”,
e não Ciência do Solo. Para a autora, ocorreu uma impropriedade da expressão “Ciência do
Solo”, devido a um erro de lingüística cometido no ato de tradução para o português. Jaú
(1996) sugere o termo “Ciência da Terra”, alegando ser mais complexo e por estar
enraizado em uma idéia de vinculação ao processo de produção de conhecimento, pois o
termo “Ciência do Solo” transparece uma idéia muito técnica. Porém essa postura não é,
ainda, conclusiva.
Contudo, esta expressão “Ciência do solo” é utilizada por todos os países em que o
solo é estudado cientificamente e, em alguns lugares, principalmente nos que adotam a língua
inglesa, é utilizada a expressão “cientista de solo”, para os indivíduos que se dedicam ao estudo do
solo.
Nesta perspectiva histórica, recorremos a Marcos (1979) ao refletir o estudo do
solo, revela três enfoques distintos: (a) o enfoque Edafológico, (b) o enfoque Geológico e
(c) o enfoque Pedológico.
Segundo o autor, o primeiro enfoque data da Pré-História, e recebeu o nome de
enfoque Edafológico, caracterizado pela concepção de que o solo é o meio natural para o
crescimento e desenvolvimento das plantas. Seu objetivo é estudar o solo, quanto à sua
natureza e comportamento, de modo a desenvolver princípios que permitam formular
previsões sobre os resultados de sua utilização e indicações quanto à necessidade de
correlação dos aspectos considerados indesejáveis.
Quando os homens passaram a cultivar plantas, logo procuraram reconhecer as
melhores terras para produzirem alimentos, daí, foi surgindo a necessidade de produzir
alimento, material para abrigo e para sua proteção, o que resultou em um conhecimento
maior sobre as terras para cultivo, tornando-se uma das motivações básicas do homem para
o desenvolvimento de seu estudo.
O segundo enfoque para o estudo do solo, surgiu juntamente com o
aparecimento da Geologia, no final do século XVIII e início do século XIX. O interesse
existente dos geólogos era relacionado com a observação de que os solos resultam da ação
de agentes naturais como o clima e os organismos, sobre a rocha. Marcos (1979) relembra
que na literatura, existem diversas publicações relatando o desenvolvimento desse enfoque
como (JENNY, 1941; GLINKA, 1963; CLINE, 1961; SMITH, 1965; TIURIN, 1965;
AVERY, 1969; CRUICKSHANK, 1972; BUOL, et. al.,1973; VIEIRA, 1975; CLINE,
1977).
O terceiro enfoque, o Pedológico, referente ao estudo do solo, surgiu, segundo
Marcos (1979), como uma resposta mais direta e particular à indagação sobre a natureza e
origem do solo como uma classe de corpos de ocorrência natural, com uma organização
peculiar. O autor relembra que esses estudos ficaram evidenciados nos trabalhos de
(DOKUCHAEV, 1983; MULLER, 1887 e SIBERTZEV, 1900, citados por GLINKA,
1931 e 1963 e CRUICKSHANK, 1972), como resultado de novas descobertas, ou de um
modo de agregar verdades já conhecidas.
Ressalta-se que, foi o russo Vasilli V. Dokouchaiev em 1877, quem criou as
bases da pedologia, após um estudo realizado na Ucrânia e na Rússia. Nesse estudo ele
pode detectar a existência de diferentes tipos de solos, e que estes tinham estreita ligação
com as condições climáticas. A sua metodologia tinha por base a observação de perfis
dispostos da superfície até a rocha matriz, com isso ele observou também que os solos
eram formados por seções horizontais diferentes, na qual ele denominou horizontes do
solo. [...] Dokouchaiev reconheceu o solo como um corpo dinâmico e naturalmente
organizado que pode ser estudado por si só, tal com as rochas, as plantas e os animais
(LEPSCH, 2002).
O estudo do solo, com base em perfis e cortes transversais, foi à metodologia de
maior aceitação e exeqüividade para a sua análise.
Com o desenvolvimento da ciência pedológica, novas técnicas e metodologias
foram desenvolvidas. Dentre os novos procedimentos criados, merecem ser enfatizada as
propostas desenvolvidas pelos franceses, quando trabalharam no continente africano.
Desse estudo, surge a partir da segunda metade da década de sessenta do século XX,
citados em Bouquier, 1973; Boulet, 1978, Boulet et al., 1984 (apud FALCÃO, 2006) a
Análise Estrutural da Cobertura Pedológica.
Este procedimento busca o solo não mais a partir de perfis isolados, mas
como um meio contínuo, organizado e estruturado ao longo das vertentes
buscando abranger este objeto de forma contínua no espaço e nas suas
reações históricas. Queiroz Neto , 2001 (apud COSTA FALCÃO. 2006, p.
01)
Muitos foram os avanços teóricos, metodológicos e práticos adicionados à
pedologia. Por outro lado, poucos foram incorporados ao estudo do solo, no que diz
respeito a repassar e transmitir os estudos dos pesquisadores.
É notória a deficiência com que é abordado o estudo do solo na disciplina de
Geografia no ensino fundamental II (5º a 8º séries), quando deveria ser o contrário, pois
são nas séries desses ciclos, em especial na primeira série do terceiro ciclo (5º série) que
por determinação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) tem que serem abordados
os assuntos inerentes à natureza. No entanto, o que se observa são uma deficiência e um
tratamento incipiente, até mesmo a ausência desse conteúdo nos livros utilizados muitas
vezes, como o único referencial pelos professores nessa etapa do processo pedagógico.
Seguindo as novas propostas para o estudo do solo, o trabalho tem como
objetivo analisar como é enfocado o estudo do solo nos livros didáticos de geografia,
destacando a relação do solo de forma integrada e dinâmica com os demais elementos da
paisagem. Para finalizar, discutiremos algumas propostas para trabalhar em sala e extrasala
o solo de forma a considerar o seu entendimento, espacialidade e lateralidade,
utilizando para isso seus aspectos morfológicos, observados em amostras de diferentes
tipos de solos coletadas em atividades de campo.
Metodologia
A pesquisa iniciou-se com a escolha de alguns livros didáticos de geografia, por
serem seus autores bastante utilizados e adotados nas séries a qual a pesquisa se direciona.
Após este procedimento, as obras foram analisadas quantitativa e qualitativamente quanto
ao conteúdo da ciência do solo, em especial ao tratamento de forma integrada,
considerando as relações que os solos mantêm com os demais elementos componentes das
paisagens naturais. Posteriormente, foi realizada pesquisa bibliográfica sobre o tema solos
e as metodologias de ensino.
A análise foi norteada pelo referencial teórico do estudo da paisagem, entendido
aqui, como o sistema ambiental físico em seus elementos e processos, distribuídos e
desencadeados no ecossistema, proporcionando dinâmica, troca de matéria e fluxo de
energia no sistema natural, resultando na formação, desenvolvimento e manutenção do
solo. Para tanto foram analisados 3 (três) livros. Os autores são: Vesentini, J.W. e Vlach V.
(1996); Adas, M. (2002) e Moreira, I. (2003)
Resultados e discussões
O livro que destina mais espaço ao assunto do estudo do solo é o de (ADAS
2002), na qual o apresenta em 6 (seis) páginas, caracterizando-se como o livro que dar
maior destaque ao assunto. No outro extremo está (MOREIRA, 2003) com 2 (duas)
páginas.
Vesentini (1996) apresenta o assunto em 3 (três) páginas de maneira bastante
fragmentada, não destina uma parte do livro específica ao solo, trabalha nas páginas 164 e
165, depois tece outras informações sobre o assunto na 176.
É bastante perceptível, o caráter de descaso dado ao estudo do solo nos livros
didáticos, ocupando espaço reduzido em poucas páginas. Paralelo a essas características de
secundariedade, a análise da pedologia nos livros didáticos do ensino fundamental II,
trabalha o assunto de forma simplificada e resumida, não proporcionando o seu
entendimento de maneira integrada, como sendo o solo um elemento natural que compõe a
paisagem e nela mantém relação com os seus elementos componentes.
A deficiência no estudo do solo, especialmente nos livros de 5º séries, vai de
desencontro ao principal documento diretor das propostas pedagógicas para a educação
básica no Brasil. Os PCNs por determinação do ministério da educação propõem o estudo
da natureza e das relações do homem com o meio natural para essa série. Não seria o solo
um elemento da natureza no qual desempenha vital função a sociedade em todos os seus
âmbitos? Amorim e Moreira (2006) falam que:
O contexto em que os conceitos de solos são aplicados dificulta a
compreensão do leitor, já que não se aplica a realidade, uma visão
geográfica dos solos, onde além de elemento natural, o solo é um
elemento na construção das relações de configuração do espaço
geográfico, que o utiliza como arcabouço das relações históricas
que marcam a relação entre sociedade e a natureza por meio do
trabalho. (p. 03).
Simultânea a análise quantitativa do conteúdo, deve estar a sua qualidade. O
que se observa nos livros analisados é uma abordagem tradicional, pautada basicamente
em duas definições, a que leva em consideração uma abordagem geológica e, outra que dá
conotação agronômica ao estudo do solo. Adas (2002), destina um subtítulo com caráter de
destaque a conceituar o solo levando em consideração essas definições.
A primeira denominação, classifica o solo como sendo o resultado da
decomposição da rocha matriz. Neste sentido é unânime a posição dos autores. A segunda
definição apresenta conotação edáfica ao solo, considerando-o como o sustentáculo e o
fornecedor de nutrientes para as plantas.
Vesentini (1996) diz que o solo é o lugar onde as plantas se fixam, e do qual
extraem água e os elementos nutrientes. Na mesma perspectiva Adas (2002) e Moreira
(2003) chamam o solo de camada superficial da crosta resultante da decomposição das
rochas e que possui vida microbiana.
Nenhuma das definições abordadas nos livros proporciona a análise do solo de
maneira contemplativa e, ainda, é bastante perceptível à tendência dos assuntos a forçar os
alunos ao exercício de memorização dos conteúdos e não a sua compreensão.

Outra maneira estanque que prejudica o entendimento do solo de maneira a
considerar sua dinâmica, estar atrelada a pouca representatividade dos perfis de solos que
os livros trazem, confeccionados em forma de desenhos, na qual são divididos pelos
horizontes A, B, C e a rocha mãe (em todos os autores) apresentando as mesmas
espessuras em cada deles. A metodologia de trabalhar o estudo do solo com base apenas
em corte e perfis verticais, segundo Costa Falcão (2006) passa a ter uma visão incompleta
do solo deixando de representar toda a sua estrutura natural, pois as variações laterais não
são observadas e assinaladas.
Desta forma, o solo poderia ser considerado apenas como uma amostra, não
como um indivíduo, uma totalidade. Sem falar que a seção vertical que os livros
disponibilizam não proporciona a relação com os demais assuntos da natureza trabalhados
no livro e deixando entender que os solos se formam do mesmo jeito e tem as mesmas
características em todas as paisagens.
Da forma que é abordado o assunto nos livros didáticos dá impressão que os
solos são corpos individualizados e dissociados da paisagem, sendo percebida apenas a sua
ligação com os plantios agrícolas.
Observa-se que não há esforço de se tentar contextualizar a importância do solo
como componente fundamental à manutenção do equilíbrio dos ecossistemas naturais, por
meio de denominações de caráter dialética do solo com os fatores internos e externos, da
mesma forma que os processos responsáveis pelo desencadeamento das inter-relações
também é trabalhada de forma dissociada de propostas que tenderiam ao entendimento do
assunto.
O intemperismo, como o principal desses processos, é trabalhado como extraassunto,
apresentado em quadros, deixando conotações de algo de menos importância, sem
que se faça à relação dos tipos de intemperismo (físico, químico e biológico) as
diferenciações regionais ou zonas climáticas que prevalecem à ocorrência de cada um
deles. Em Vesentini (1996) é inexistente a discussão sobre o intemperismo.
Nos livros analisados presenciam-se definições equivocadas, restringindo-se a
denominações pautadas na abordagem geológica e agronômica, sendo mais forte a
tendência a aplicação dos conhecimentos baseada na segunda, sendo uma abordagem
pautada principalmente nos aspectos relacionados às técnicas aplicadas ao campo e os
impactos ocasionados.
Propostas para o estudo do solo
Como proporcionar o estudo solo de maneira contemplativa, a considerar suas
relações com os demais componentes da paisagem, se os professores utilizam como base
una os livros didáticos, que expõem o assunto sob uma ótica tradicional, caracterizada com
descaso e pouca importância a esse elemento fundamental ao estado de equilíbrio e
dinâmica da natureza e da própria existência e sucesso das formações sociais desde seus
surgimentos e evolução no tempo?
Negar o estudo do sobre o solo é negar todo e qualquer estudo sobre a natureza
dos elementos superficiais da paisagem, uma vez que são nos solos que estão representados
muitos dos processos e dessas inter-relações.
O professor tem que tomar postura de sujeito, frente aos livros didáticos e da
maneira distorcida que eles trazem o assunto, procurando ir além das abordagens
propostas. Informações em outros veículos para fundamentar as aulas teóricas; mostrar
fotos verdadeiras de diferentes classes de solos, contextualizando a variação deles nos
diferentes biomas do Brasil; propor a criação de um inventário de amostras coletadas pelos
alunos e em um segundo momento, o professor acompanharia os alunos em práticas de
campo em forma de passeios de estudo, mostrando o solo disposto naturalmente na
paisagem, visualizando-o e levantando discussões a projetar o seu entendimento de forma
mais contemplativa.
Levar à sala de aula, revistas e periódicos que contenha ilustrações que
represente a realidade dos solos em diferentes unidades morfoclimáticas, proporcionando a
visualização de maneira a caracterizar uma atividade complementar ao livro didático, que
certamente prenderia a atenção dos alunos e fixaria melhor o assunto de forma mais rica e
correta.
Outra maneira positiva de trabalhar com o solo seria o contato direto com ele.
Pedir que os alunos colete amostras de solos com diferentes colorações para produzir perfis
esquemáticos em potes de vidro e expondo-os na sala durante a apresentação do assunto e
dessa forma criar um inventário de solos locais, compreendendo-os e proporcionando
comparações com os solos de outras paisagens sob outras condições climáticas,
geomorfológicas e biológicas caracterizaria avanços ao entendimento mais completo do
assunto. Durante a realização dessa atividade os alunos estariam a trabalhar com base em
uma das principais características morfológicas do solo. A cor será o elemento que no
primeiro momento proporcionará a observação das diferenças nas amostras postas em
exposição na sala.
Num segundo momento o professor deve acompanhar os alunos em atividades
que perpasse os muros da escola e os ponha em contato com o solo no ambiente natural,
proporcionando a observação do objeto de estudo in loco, a disposição desse elemento da
exploração biológica na natureza, considerando sua lateralidade, a relação com os demais
componentes da paisagem, desmistificar indagações a cerca dos horizontes em caráter de
simetria e em fim apresentarem o solo de forma dinâmica considerando as trocas de
matérias e os fluxos de energia que se estabelecem no ecossistema como um todo.
Considerações finais
Os autores dos livros didáticos analisados apresentam o solo na disciplina de
geografia no ensino fundamental II, de maneira que não proporcionam o seu entendimento
como um elemento natural componente da paisagem e resultante de processos
desencadeados nos diferentes ecossistemas sob a atuação de fatos geomorfológicos, climas,
material de origem, os organismos vivos e o seu tempo de formação.
A abordagem pautada na denominação de solo com base em tipologia geológica
e agronômica, em perfis de solos apresentados como desenhos, os processos de formação
abordados de maneira incipiente e como partes destacadas do assunto em forma de
curiosidade, são pontos relevantes para o estudo do solo de maneira tradicionalmente
estática, prevalecendo em todos os autores.
Porém, o livro didático mais recomendado em nossa avaliação para trabalhar os
conteúdos de solos é Adas (2002), devido ao seu esforço de tentar trabalhar de maneira
mais destacada e procurando enfatizar com mais ênfase os aspectos de formação
(intemperismo) e de perdas de solos (erosão) se aproximando do foco de nossa abordagem.
O livro de Moreira (1996) apresenta sérias deficiências, enquanto que o de
Vesentini (1996), simplesmente deveria ser descartado para a abordagem do solo, pois este
desconsidera parâmetros essenciais à abordagem do assunto, como: intemperismo e erosão.
Como proposta para uma abrangência da ciência do solo de maneira a romper
com a metodologia apresentada, os livros didáticos deveriam destinar capítulos específicos
tomando por base as novas metodologias desenvolvidas e destinadas ao entendimento do
solo.
Mas vale ressaltar que os avanços que os livros venham a trazer, por melhores
que sejam não devem ser utilizados como os únicos referenciais para fomentar a discussão,
sendo os trabalhos de campo, fotografias e a confecção de perfis esquemáticos
constituiriam excelentes recursos pedagógicos.


Referências bibliográficas


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terça-feira, 27 de abril de 2010

Cineclube Ciência em Foco - 1º de maio - Pão e rosas

Cineclube Ciência em Foco - 1º de maio - Pão e rosas



Saudações,

É com alegria que os convidamos para a próxima sessão do cineclube Ciência em Foco, na Casa da Ciência da UFRJ, no próximo sábado, dia 1º de maio, às 16h.


Aproveitaremos o dia do trabalho para exibir o filme "Pão e rosas" (Bread and roses, 2000), de Ken Loach, seguido da palestra "As transformações do trabalho na perspectiva de Ken Loach", ministrada por José Ricardo Ramalho, que é doutor em Ciência Política pela USP, professor titular do Departamento de Sociologia do IFCS/UFRJ e autor de livros sobre sociologia do trabalho.


A entrada é franca e a atividade é indicada para o público a partir de 16 anos. Seria ótimo poder contar com a presença de todos, e também com sua ajuda na divulgação.

Acompanhem e participem deixando comentários em nosso blog, que contém informações mais detalhadas sobre assuntos relacionados às nossas sessões, como também notícias, curiosidades e dicas de outros eventos interessantes: http://cineclubecienciaemfoco.blogspot.com

Até lá!

___________________________________
Centro Cultural Casa da Ciência da UFRJ

www.casadaciencia.ufrj.br
Twitter: @casadaciencia
(21) 2543-7494 (r. 204)

A construção da cidadania pelo ensino da Geografia

A construção da cidadania pelo ensino da Geografia

O ato de ensinar Geografia nos coloca diante de duas discussões importantes: a primeira refere-se à relação ensino e aprendizagem enquanto tal, e a segunda diz respeito à própria Geografia, fonte e objeto de uma gama muito particular de discussões, principalmente no que se refere a seus pressupostos teórico-metodológicos.

No ensino de Geografia deve-se considerar a realidade no seu conjunto: o espaço é dinâmico e sofre alterações em função da ação do homem, e este é um sujeito que faz parte do processo histórico. Portanto, o aluno deve ser orientado no sentido de perceber-se como elemento ativo do seu processo histórico.

A nossa ação enquanto educadores, está relacionada com os nossos objetivos pedagógicos e educacionais. Se quisermos uma educação que contribua para o desenvolvimento da criança, devemos atuar no processo de ensino e aprendizagem, na perspectiva da construção do conhecimento, refletindo sobre a realidade vivida pelo aluno, respeitando e considerando a sua história de vida e contribuindo para que o aluno entenda seu papel na sociedade: o de cidadão.

Esta reflexão aponta-nos na direção da articulação entre conteúdo específico e o processo de ensino e aprendizagem, isto é, a concepção que temos de Geografia deve estar relacionada com a concepção de Educação.

E como isso deve ser feito? Podemos pensar que a contribuição da Geografia para a formação do aluno está na compreensão que ele terá da realidade. Ao estudar o espaço geográfico, por exemplo, o aluno refletirá sobre a análise da dinâmica social, a dinâmica da natureza e a relação que existe entre os seres humanos e a natureza. A compreensão da realidade está vinculada à forma como a aprendizagem está acontecendo.

Desta forma, o aluno analisará a interferência humana no espaço como fruto do trabalho na organização espacial através do tempo. E assim, se posicionará de forma crítica diante dos acontecimentos ocorridos na paisagem. A discussão sobre o ensino de Geografia passa pela avaliação do conteúdo e pela construção de conceitos e noções a partir do espaço de vivência da criança, pois é desde o momento em que nascemos que construímos a noção de espaço.

Jean Piaget averiguou a formação das noções espaciais e temporais, das noções de número, de longitude, de quantidades físicas, de praticamente de quase todas as categorias cognoscitivas, das mais simples até as mais complexas e desde o nascimento até a adolescência. Estes estudos permitem-nos entender como o sujeito aprende e forma o seu conhecimento.

No processo da construção da noção espacial, o desenvolvimento da imagem que a criança forma está relacionada com a representação que ela tem do espaço em que vive. A imagem e a percepção estão associadas à educação visual que ela recebeu. Podemos ter como exemplo, a representação que uma criança ou qualquer pessoa pode fazer do trajeto casa-escola ou de um lugar qualquer da cidade onde mora. Como será que essas pessoas percebem o espaço vivido, ou como será que as pessoas imaginam o espaço de um lugar que elas não conhecem?

As crianças percebem que a cidade tem certa complexidade na sua estrutura: é dinâmica, possui velocidade e reestrutura-se em função das necessidades dos seres humanos. Percebem também, um espaço de contradições, de transformações e de conflitos, mas também é um espaço ao mesmo tempo desorganizado e poético.

Para ensinar Geografia com essas concepções, precisamos avaliar os conteúdos desenvolvidos nas escolas, e isto significa refletir também sobre os currículos mínimos no ensino fundamental e médio. Finalmente, apesar da individualidade que a ciência geográfica traz na discussão sobre espaço, devemos ter presente a importância de colocá-la na perspectiva de uma discussão interdisciplinar.

Márcio Balbino Cavalcante é geógrafo pela UEPB; Pós-Graduado em Ciências Ambientais – FIP/PB; Professor do Instituto Superior de Educação de Cajazeiras – ISEC/PB e Pesquisador do TERRA – Grupo de pesquisa Urbana, Rural e Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB/CNPq.

http://gsf.org.br/?q=node/20

"Vida e Dívida", de Stephanie Black

"Vida e Dívida", de Stephanie Black
Documentário / 86 min. / 2001 / inglês / legendas em português
O contraste entre os objetivos políticos de instituições financeiras internacionais e seu impacto real nos cidadãos de países em desenvolvimento serve como uma plataforma para a crítica do papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) na Jamaica.
“Vida e Dívida” denuncia os efeitos prejudiciais da liberalização do comércio e da dívida externa na vida dos jamaicanos comuns. Em um nível puramente humano, o filme cria uma argumentação forte pela reavaliação da sustentabilidade da competição de mercado sem arreios em países em desenvolvimento.
Através de relatos apaixonados de agricultores e operários jamaicanos, o filme mostra poderosas evidências de que as dívidas da Jamaica com o FMI e a dependência crescente da ilha de produtos importados deixaram a indústria local depauperada e prejudicaram a atividade econômica doméstica.

"Vida e Dívida" conta a história de dois países: de um lado, o paraíso turístico ensolarado e feliz; de outro - o da maioria esmagadora dos jamaicanos - um país cheio de problemas, onde os produtores locais não encontram espaços para a sobrevivência. O filme é uma crítica da visão disseminada de que a globalização é tão inevitável quanto intrinsecamente benéfica.

"Capilares da transformação social: Movimentos urbanos na América Latina",

O Núcleo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Sócio-Espacial (NuPeD)
e o Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ
convidam a todos para a palestra:

"Capilares da transformação social: Movimentos urbanos na América Latina",

a ser proferida pelo Dr. Stephan Lanz (Europa-Universität Viadrina, Frankfurt/Oder).


Data: 04 de maio de 2010 às 13:30h

Local: Auditório da Pós-Graduação (sala I-017)

sábado, 24 de abril de 2010

MANOEL DE BARROS

23/04/2010 15:33:20
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=6511

Emiliano José Comprar o ócio. Essa foi a façanha do poeta Manoel de Barros. E isso eu descobri assistindo ao filme Só dez por cento é mentira, do cineasta Pedro Cezar, uma quase-biografia, de um sujeito que não é biografável, como ele próprio, o poeta, costuma afirmar. Assisti ao filme duas vezes e a segunda foi melhor ainda que a primeira, muito melhor, pelas descobertas.

Diz ter se dedicado por 10 anos a tornar uma fazenda rentável para em seguida fazer apenas e tão somente o que melhor sabe fazer: poesia. Ofício do qual nunca mais se afastou, e ao qual se entregou em tempo integral, o que quer dizer que o ócio tornou-se poesia. E poesia não pode ser chamada de trabalho. É ócio criativo, inventado antes que Domenico Di Masi o elevasse à condição de conceito.

O filme alterna o depoimento de Manoel de Barros com vários outros testemunhos. E o espectador se verá diante de uma impressionante sucessão de imagens sobre o inútil, sobre coisas velhas, sobre um mundo aparentemente decadente, materiais descartados, um tempo insondável, ferrugens, um mergulho no cenário de materiais imprestáveis.

É a esses materiais que Manoel de Barros dá fala, vida, existência. Torna o inútil, útil. Torna o velho, novo e real. Faz poesia sobre os cogumelos no armário. Indica vida onde a morte se prenuncia. Só dez por cento é mentira, noventa por cento é invenção. É o pensamento de Manoel de Barros.

Só a imaginação poderosa dele pode criar poesia em cima do aparentemente inútil. Só ele poderia criar o esticador de horizontes. Numa idade bastante avançada, fala com alegria da vida. E à pergunta de como gostaria de ser lembrado – o que não é propriamente uma pergunta elegante na idade dele, e ele registra isso no filme – não se furta, e responde: como poeta. O poeta que comprou o ócio.

Uma jovem catarinense o visita e começa a passar as mãos em suas pernas. Passa uma, passa duas, passa três. “Moça, o que é isso?”. “É pra ver se o senhor existe mesmo”. Conta isso no filme, quase com constrangimento pelo que pode significar de auto-elogio. Mas, de fato, Manoel de Barros é tão impressionante que a indagação da moça tem sua razão de ser. Quem nunca o tenha lido, seria bom que o fizesse logo.

A leitura de Manoel de Barros, ao menos nos espíritos mais sensíveis, pode provocar impactos fortes, outro olhar sobre a natureza humana e outra visão sobre as coisas, particularmente sobre aquilo que consideramos inúteis. A imaginação poética dele transfigura o mundo. Quem quiser que confira. Quem sabe, terá outra visão também sobre o tempo.

Há um texto, em Memórias inventadas, relativas àquilo que ele chama segunda infância, em que ele diz que “não amava” que botassem data em sua existência. Ele gostava mais era de encher o tempo. “Nossa data maior era o quando. O quando mandava em nós. A gente era o que quisesse ser só usando esse advérbio”. E olhe que bonito: “tem hora que eu sou quando uma árvore”, e com isso, podia apreciar melhor os passarinhos.

Não se queira compreender isso. Pretenda-se, diante do altar do poeta, imaginar, dar asas à imaginação. A poesia só tem sentido quando, diante dela, não se quer compreender. Deixar-se levar pelas asas da imaginação, não se incomodar com os 90 por cento de invenção,nem com os 10 por cento de mentira. “Eu sou quando uma árvore” dá para compreender? Só dá se o espírito estiver livre para ouvir os muitos passarinhos em torno. Só dá se você se sentir quando uma árvore.

Mas esse tempo, tempo do quando, onde não existiam datas, era o tempo do quando crianças. “Quem é quando criança a natureza nos mistura com as suas árvores, com as suas águas, com o olho azul do céu”.

Por tudo isso, por essa beleza, ultimamente sempre recorro ao tempo do quando para diversas situações, para não me angustiar com o tempo. O tempo do quando simplifica tudo, embeleza tudo. O tempo do quando nos dá esperanças, nos faz lutar por nossos sonhos. Se a leitura de Manoel de Barros for atenciosa, carinhosa. Se voar nas asas da imaginação do Pantanal, onde ele nasceu e se criou. Onde tanta gente linda se criou. Onde a natureza se fez beleza.

Se não viajarmos na idéia dos 90 por cento de invenção, não podemos compreender Manoel de Barros. Assim como compreender que uma senhora de nome Ana Belona, de um lugarejo chamado Desprezo, “queria ser árvore para ter gorjeios”? E por que ela queria ser isso? “Ela falou que não queria mais moer solidão”. E tinha razão: é muito ruim moer solidão. Cansa. Melhor ser árvore e ter gorjeios.

Tão grande, tão grande Manoel de Barros que é capaz de dizer não saber “nada sobre as grandes coisas do mundo” e completar: “sobre as pequenas eu sei menos”. Um louco poeta perdido no ócio e disposto sempre aos paradoxos da vida. Que sempre quis desfazer o normal.

Desfazer o normal há de ser uma norma. Pois eu quisera modificar nosso idioma com as minhas particularidades. Eu queria só descobrir e não descrever. O imprevisto fosse mais atraente que o dejá visto. O desespero fosse mais atraente do que a esperança.

Um homem que diz isto não é normal. É poeta. Nunca descrever. Só descobrir. O susto, o alumbramento vem do descobrir. E só se descobre apalpando com as mãos e a imaginação. E nada se descobre com palavra do tanque: “as palavras do tanque são estagnadas, estanques, acostumadas”.

E anotem: palavras do tanque “podem até pegar mofo”. Para o descobrir só um “idioma de larvas incendiadas”, palavras de fontes e não de tanques. Tudo isso é dito como lições de um professor de latim, Mestre Aristeu. Mas ninguém sabe se a referência se enquadra nos 90 por cento de invenção ou nos dez por cento de mentira, e isso pouco importa.
O que interessa mesmo é que a vida é feita do descobrir e não do descrever. É o descobrir que nos assusta e nos deslumbra, nos dá a permanente surpresa do viver, sem o que morremos. Por isso, o poeta diz que aprendeu tanto com Sócrates, que “aprendia melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar”.

Vou deixar o final desse texto provocado pelo filme, com o próprio Manoel de Barros. Está, como as demais citações, no Memórias Inventadas, Segunda Infância:

Eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.

Evento no dia 29-04-2010

O DIESP informa que:


O próximo Fórum do Instituto Nacional de Educação de Surdos terá inscrição a partir de 13h e Inicio às 14:00 até 16h:30min.

No dia 29/04 teremos o nosso Fórum com o Tema: "Profissionais de LIBRAS: conhecendo as diferenças II"

Palestrantes:
Wendel de Oliveira
- Graduando dos cursos de Pedagogia/INES e Letras/LIBRAS pela Universidade Federal de Santa Catarina
- Professor do Curso de Assistente Educacional em LIBRAS da DIEPRO/INES

Suzana Alves de Souza
- Professora das Séries Iniciais das turmas bilíngües da Escola Municipal Paulo Freire
- Intérprete de LIBRAS e Guia Intérprete de Surdo-Cego

Fabiano Guimarães
- Formado em Letras pela Universidade Veiga de Almeida com Especialização em Línguística e Produção de texto pela Universidade Estácio de Sá
- Professor da Universidade Estácio de Sá em Educação a Distância
- Professor tutor do Letras/ LIBRAS da Universidade Federal de Santa Catarina
- Intérprete de LIBRAS

Mediador: Assistente Educacional Valdo Nóbrega - INES/RJ


Atenciosamente,

DIESP/INES

Habitação Social: a solução existe e está ao alcance da cidade

Habitação Social: a solução existe e está ao alcance da cidade
Carlos Vainer
Professor Titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional/UFRJ
ettern@ippur.ufrj.br

Rio - Fundado por Estácio de Sá em 1º de março de 1565, no morro Cara de Cão, o Rio de Janeiro passou há dois séculos por uma refundação, quando aqui desembarcou a Família Real Portuguesa. O PR pintado nas fachadas de muitas casas indicavam que estas casas seriam ocupadas por um integrante da corte. PR queria dizer Príncipe Regente, mas o povo, ironicamente, tinha outra versão para as duas letras: “Ponha-se na Rua”. A verdadeira fundação da cidade moderna, porém, aconteceu há pouco mais de 100 anos, quando, sob o comando do prefeito Pereira Passos, foi aberta a Avenida Rio Branco - então, Avenida Central. No que ficou conhecido como “bota-abaixo”, cerca de 600 prédios foram demolidos e milhares de pessoas foram expulsas para a periferia da cidade ou se estabeleceram em morros próximos ao centro.

Não seria exagero afirmar que, no século XX, um dos traços marcantes da urbanização carioca foi o processo de expulsão dos pobres das áreas centrais, em direção à periferia e às favelas em expansão. Nos anos 50 e 60, o boom imobiliário da Zona Sul exerceu enorme pressão sobre várias favelas, exacerbando o processo de remoção. Sob os governos de Carlos Lacerda e, com o início da ditadura militar, de Negrão de Lima, a destruição de favelas e a remoção de seus moradores se impuseram. Expulsos das áreas em processo de valorização imobiliária, os mais pobres eram literalmente jogados em conjuntos habitacionais na periferia distante.

Em pouco tempo, revelaram-se os efeitos dramáticos do que se havia concebido como “solução final” para as favelas - pelo menos aquelas da Zona Sul. Segregados e distantes do mercado de trabalho, os grandes conjuntos habitacionais se degradaram, agudizando o empobrecimento de seus moradores. O filme Cidade de Deus narra o resultado deste perverso processo de remoção de favelas.

A partir dos anos 1980, em conseqüência das lutas populares que marcaram o fim da ditadura militar, afirmou-se progressivamente a convicção de que bairros populares precários e favelas não deveriam ser removidos, mas urbanizados, dotados de infra-estrutura e equipamentos sociais. Além de consagrar o direito cidadão à moradia digna, segura e salubre, a Constituição Federal de 1988 afirmou o dever do Estado de planejar e executar políticas habitacionais que viessem suprir as necessidades das populações de baixa renda.

Como em muitas cidades brasileiras, no Rio de Janeiro os governos têm sido omissos no desempenho de suas obrigações constitucionais. Alguns programas de urbanização de favelas promoveram melhorias localizadas, mas, na prática, nas últimas duas décadas, nos níveis federal, estadual ou municipal, nada houve que merecesse ser chamado de Política Habitacional. A conseqüência foi a precarização e crescimento das favelas, apesar da queda da taxa de crescimento demográfico. O recente programa federal “Minha Casa, Minha Vida” é largamente insuficiente do ponto de vista quantitativo, além de pecar por reproduzir a fracassada experiência de periferização da pobreza, afastando os trabalhadores do mercado de trabalho.

Ao mesmo tempo em que se mostravam incapazes de implementar Políticas de Habitação Social, os governos fizeram, desde 1970, vultosos investimentos para viabilizar a especulação imobiliária na Barra da Tijuca. Os túneis, viadutos, auto-estradas e infra-estruturas que valorizaram as terras de uns poucos latifundários urbanos são a contra-face da ausência de investimentos em habitação social. Mais recentemente, a Cidade da Música e o Engenhão mostram como se desviam recursos públicos daquilo que deveria ser prioridade: habitação social.

Agora, quando a tragédia de centenas de mortes e milhares de desabrigados denunciam a omissão e irresponsabilidade das elites dirigentes de nossa cidade, estas não têm nada a oferecer a não ser a velha solução final do lacerdismo, do bota-abaixo de Pereira Passos, do ponha-se na rua de D. João VI. Só falam em remoção.

Mas a cidade tem muitos e valiosos recursos para que, finalmente, leve adiante uma vigorosa política habitacional. Milhares de imóveis ociosos estão à espera de que se lhes imponha o cumprimento da função social da propriedade, determinada pelo Estatudo da Cidade (Lei 10.257/2001). Várias centenas de imóveis públicos, inclusive na Área Portuária, podem ser destinados à habitação popular, em conformidade com a Lei 11.124/2005, que instituiu o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e determinou a destinação de imóveis públicos para este fim.

Prevenção e habitação social são a solução e ela se encontra ao alcance da cidade. A sociedade deve e pode construir a vontade política que imporá esta solução aos governantes.


FONTE: http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/4/habitacao_social_a_solucao_existe_e_esta_ao_alcance_da_cidade_76035.html

Vulcão explicita limites da globalização

Vulcão explicita limites da globalização

"Quando a natureza se interpõe, nos deparamos com a realidade de uma separação de milhares de quilômetros. E descobrimos que, afinal, não escapamos do mundo físico"

Assim como a crise financeira, o vulcão Eyjafjallajokull mostrou que o mundo precisa de sociedades mais simples. O homem propõe e a natureza dispõe. Dificilmente somos mais vulneráveis do que quando nos sentimos isolados. O milagre da moderna aviação nos protegeu da gravidade, da atmosfera, da cultura, da geografia.

Fez com que nos sentíssemos cidadãos de todos os lugares. Mas, quando a natureza se interpõe, nos deparamos com a realidade de uma separação de milhares de quilômetros. E descobrimos que, afinal, não escapamos do mundo físico.

Sociedades complexas e interligadas têm maior capacidade de recuperação do que as mais simples. Durante as secas na África, nos anos 90, as pessoas que tinham menos parceiros comerciais foram as mais atingidas. Quanto mais ampla a área geográfica da qual extraíam seus alimentos, menor foi o impacto da fome.

Após certo ponto, a conectividade se torna um perigo. Quanto mais extensas as linhas de comunicação, mais dependentes somos da produção de empresas de outros países e maior é o potencial de perturbação. Essa é uma lição que aprendemos com a crise dos bancos. Alguns milhares de mutuários que não conseguiram pagar suas hipotecas nos EUA quase quebraram a economia global. Se o vulcão islandês continuar vomitando cinzas, pode produzir o mesmo efeito.

Há vários tipos de vulnerabilidade. A mais catastrófica seria uma tempestade solar, que causa um aumento repentino da corrente direta em nossas redes de eletricidade, queimando os transformadores. Poderia ocorrer em questão de segundos, mas precisaríamos de anos para nos recuperarmos.

Como destaca a revista New Scientist, um evento como esse desmantelaria a maior parte dos sistemas que nos mantêm vivos. Destruiria as estações de tratamento e bombeamento de água. Paralisaria a distribuição de petróleo, reduzindo a oferta de alimentos. Afetaria hospitais e sistemas financeiros.

Os geradores de emergência só funcionariam até o fim das reservas de petróleo. Transformadores queimados não podem ser reparados - devem ser substituídos. As companhias distribuidoras de energia não estão preparadas para esse tipo de catástrofe. A mesma falta de planejamento existe caso a oferta global de petróleo comece a declinar.

O relatório mais recente do governo britânico afirma que "uma crise de energia será inevitável se não houver uma expansão da produção e da capacidade de refino". "Até 2012, o excedente da capacidade de produção de petróleo poderá desaparecer. Em 2015, o déficit poderá chegar a 10 milhões de barris diários", diz o documento.

Os custos da energia e os impactos ambientais já ultrapassaram os benefícios de uma complexidade crescente. Pela terceira vez em dois anos, descobrimos que as viagens aéreas são o elo frágil do nosso sistema. Em 2008, o aumento do custo dos combustíveis tirou do mercado várias linhas aéreas. O vulcão arruinará muitas outras. A indústria da aviação, grande consumidora de energia, depende do clima, que é incontrolável. E quanto maior nossa dependência do avião, mais vulneráveis nos tornamos.

O fornecimento de petróleo, os custos ambientais e sociais do setor e sua vulnerabilidade significam que os atuais níveis dos voos não poderão ser mantidos. Temos uma opção. Podemos começar a desativar o setor enquanto há tempo e encontrar maneiras de viver passando a depender menos dele. Ou podemos ficar sentados esperando que a realidade física simplifique o sistema por meios mais brutais.

(George Monbiot, The Guardian. Tradução de Anna Capovilla)

(O Estado de SP, 21/4)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Dia da Baixada Fluminense > A Baixada no Dia a Dia

Dia 27 de abril, 3ª feira:
08h > Palestra sobre “História da Baixada”
Prof Gênesis Torres (IPAHB)

09:30h > Mesa com o tema “Ações educativas pela Baixada”
CRPH, Centro de Memória e Ong Onda Verde


Dia 28 de abril, 4ª feira:
19h > Mesa com o tema “ O que a Baixada tem para comemorar?”
SEPE/Caxias, Subsecretário de Estado da Baixada e Fórum Cultural da Baixada Fluminense


Dia 29 de abril, 5ª feira:
09h > Apresentação do documentário “ Praça do Pacificador’’
15h > Grupo de Teatro de Paracambi.
18h > Exibição do filme : “ Nunca fui mas me disseram”, seguido de debate sobre o filme.
19:30h > Movimento APA FUNK.


Local
Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF-UERJ)
R. General Manoel Rabelo, s/n. Vila São Luís - Duque de Caxias - RJ
Telefone: (21) 3651-8278

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Conversa com Pós-Graduandos: * Encontro de Idéias *

Conversa com Pós-Graduandos: * Encontro de Idéias *
dia 26 de abril de 2010 às 17 h
Auditório Manoel Maurício - Prédio CFCH
Prof José Gimeno Sacristán - Catedrático de Didáctica y Organizacion Escolar da Universidad de Valencia

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Tom Zé: O jeito é "politicar" a música brasileira

A música brasileira é pródiga em histórias sobre músicos presos pela ditadura, e Tom Zé não foge à regra. Em entrevista inserida no novo DVD O Pirulito da Ciência (Biscoito Fino), o compositor e cantor baiano toca no assunto. Suas lembranças são pouco traumáticas e nada glamourosas.

A primeira prisão aconteceu em 1972, pelo fato de o artista manter contato com um italiano que queria editar suas músicas no país natal e acabou preso por suspeita de contrabando de armas (segundo Tom Zé, o amigo só contrabandeava pedras semipreciosas – daquelas vendidas na praça da República).

“Quem me prendeu, graças a Deus, foi a Polícia Federal, que naquele tempo não prendia bandido, prendia artista”, ele graceja. “Fui preso no Fundão do Dops, mas, como não sou de contar folclore... A pessoa conta logo que toma porrada, que vai para o pau de arara... Eu não vi nada disso.”

Sua grande apreensão, na ocasião, dizia menos respeito a ele próprio que a duas de suas irmãs, Estela e Lúcia. “Meu tempo de universitário de esquerda foi mais mole. Elas vieram depois e já pegaram o tempo em que se assaltava banco. Meu maior medo, na prisão, era de que pedissem satisfação de minhas irmãs. Elas estavam no Chile, com Geraldo Vandré, hospedadas pelo presidente, como chama? Allende. Quando Allende caiu, elas, e no rolo também o Vandré, foram parar na França”, diz.

O interrogatório a que se submeteu foi peculiar. “O agente me fez a primeira pergunta: ‘Silvio Santos é um cara legal?’ Pô, aonde vai parar isso? ‘É, legal.’ ‘E Hebe?’ ‘É, também.’ Foi meu interrogatório”, ri. “Mandaram pedir informação à Bahia, fiquei uma semana preso esperando chegar a informação por telégrafo. A Bahia não tinha informação minha, e olha que eu tinha sido o único funcionário assalariado do Partido Comunista no CPC (Centro Popular de Cultura, da União Nacional dos Estudantes).”

A segunda experiência ocorreu em prisão comum. “Na Polícia Federal não foi uma prisão tão traumática. Na comum foi, mas não conto a ninguém o que aconteceu lá dentro. Logo na entrada vi coisa feia como o diabo.” O motivo da prisão, dessa vez, estava ligado aos “bons costumes”. “Acharam um pitombo de maconha dentro da minha frasqueira de viagem. Nunca fumei maconha, tenho asma. O cigarro foi parar lá sem eu fumar”, explica o artista.

O episódio descortinou, para ele, traços do relacionamento clandestino entre a polícia da ditadura e a classe artística: “Entraram na minha casa com permissão do juiz, algum artista que foi preso antes de mim me denunciou. Era uma corrente de Santo Antônio, foi esse meu terror. Só poderia sair se denunciasse alguém”.

Não quer dizer, mas afirma saber, sem certeza absoluta, quem o denunciou: “Pelo que tinha ouvido contar e pelas pessoas que tinham sido presas recentemente, decifrei quem foi. Deve ter pensado: ‘Esse aí é um babaca, nego vai chegar na casa dele e não vai achar nada’.” Afirma que foi resgatado por interferência de O Estado de S. Paulo, sem precisar prosseguir a corrente.

Guarda lembranças boas de personagens secundários das duas epopeias. “Os humildes se juntam com os pobres, não é?” No Dops, dois carcereiros avisaram aonde ele estava à esposa, Neusa. Da prisão comum, conta esta história: “O investigador mandou chamar o zelador do meu prédio, olha a coragem do Chico da Paraíba. Ele disse: ‘O senhor me chamou, me mostrou um cigarro e disse que achou dentro da frasqueira dele, mas eu não vi o senhor achar o cigarro’”.

Aos 73 anos, Tom Zé se classifica entre os artistas brasileiros mais preo-cupados em politizar a música, como atestam no DVD retrospectivo números como Companheiro Bush, Classe Operária e Politicar, ou ainda temas sempre incluídos em shows, como O PIB da PIB (Prostituir), sobre prostituição infantil. Ainda assim, rejeita os rótulos de “engajado” ou “cantor de protesto”. Parece ter em mente o protesto ortodoxo de Geraldo Vandré e outros, questionado por seu grupo, que viria a arquitetar a Tropicália a partir de 1967.

“Música de protesto é um método jesuítico, como o que (o educador) Paulo Freire chama de ‘hospedar o opressor’. Eu faço Classe Operária como se fosse o opressor hospedado no cantor”, explica, em referência aos versos: sobe no palco o cantor engajado Tom Zé/ que vai defender a classe operária, salvar a classe operária e dizer o que é bom para a classe operária/ nenhum operário foi consultado/ não há nenhum operário no palco, talvez nem mesmo na plateia/ mas Tom Zé sabe o que é bom para os operários.

Por aversão ao protesto tradicional, deprecia a contestação que pratica: “O tipo de coisa inócua que faço diverte pessoas que, no dia seguinte, vão trabalhar nas multinacionais”. Justifica-se: “Não tiro quem está no sinal de trânsito, eu tenho um limite. Só sei trabalhar num setor em que, quando a sociedade baixa a guarda e mostra sua verdadeira fisionomia, desonesta, tenho rapidez de fotografar e botar em texto, em canção”.

Sem querer, ele define nas poucas palavras a combustão tropicalista que redundou em prisões, repressões, exílios e sucessos vividos de modo menos luminoso por ele que por seus pares.

Em 9 de dezembro de 1968, Tom Zé venceu o festival de música da Record com São, São Paulo, Meu Amor, entre versos como: salvai-nos por caridade/ pecadoras invadiram/ todo o centro da cidade/ armadas de ruge e batom/ dando vivas ao bom humor/ num atentado contra o pudor/ a família protegida/ o palavrão reprimido (o termo original na letra era “prostitutas”, censurado).

Dois dias depois, em 11 de dezembro, a Câmara Federal negou ao ministro da Justiça uma autorização para processar o deputado Márcio Moreira Alves, por conta de um discurso proferido dois meses antes, do qual Tom Zé diz se lembrar: “Isso é sensacional, ele dizia: ‘as mulheres dos militares não devem dormir mais com eles enquanto as Forças Armadas estiverem cometendo esse tipo de violência pública’. A terribilidade do discurso dele foi invocar as mulheres dos militares”.

Em 13 de dezembro, quatro dias após a vitória de São, São Paulo e dois dias depois da recusa à punição do deputado, foi decretado o Ato Institucional no 5. E a revolução comportamental proposta pela Tropicália, interrompida. Tom Zé ficou por aí, indisposto com os outros tropicalistas, sem fazer o sucesso que, como eles, também mereceria, e sendo preso por motivos banais.

Com Carta Capital

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Catástrofe Inevitável ou Gestão Urbana Catastrófica?

Catástrofe Inevitável ou Gestão Urbana Catastrófica?
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro
Professor Titular do Instituto de Pesquisa
Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ e
Coordenador do INCT Observatório das Metrópoles – CNPQ/FAPERJ

Os últimos acontecimentos no Rio de Janeiro nos interpelam. Muitos incidentes climáticos têm assolado as nossas cidades brasileiras nos últimos tempos. Chuvas, inundações, deslizamentos, engarrafamentos maiores do que os normais, mortes, desabrigados, enfim inúmeros infortúnios vêm assolando as nossas cidades. Diante das chocantes e até mesmo dantescas cenas mostradas em tempo real pela televisão, as autoridades são convocadas para explicações. Invariavelmente as razões alegadas são as mesmas: a combinação de eventos climáticos incomuns, fora dos padrões previstos, uma um meio geográfico também considerado incomum para a existência de uma cidade (montanhas, rios, lagoas e, no caso do Rio de Janeiro, praia) e a irracionalidade da população que teima ocupar áreas impróprias ao uso residencial e não cuidar adequadamente dos resíduos sólidos dos seus lixos. Prefeitos e Governadores mostram-se chocados e tratam de acalmar a população fazendo funcionar de maneira emergencial a máquina administrativa da assim chamada Defesa Civil. São realizadas verdadeiras operações semelhantes às situações de exceção, como nas guerras, nos atentados terroristas e outras situações de calamidade pública. Engenheiros, bombeiros, policiais e outros corpos técnicos de emergência são mobilizados de maneira excepcional pelas autoridades públicas para diminuir os estragos e, de alguma forma, acalmar o natural sentimento de desamparo da população.

Se o estado de emergência se faz obviamente necessário, onde está o problema? Não é novidade para ninguém que as nossas cidades são organizadas por práticas totalmente à margem da regulação pública, dos planos diretores, das leis de uso e ocupação do solo urbano, dos códigos de construção e de posturas. Um verdadeiro laissez faire impera como fundamento da “irracionalidade” mencionada pelas autoridades. “Irracionalidade” que não está presente apenas nos territórios das classes populares. Em todas as cidades brasileiras também encontramos as elites residindo em artefatos imobiliários (condomínios-fechados e seus congêneres) construídos em áreas ambientalmente vulneráveis de acordo com uma lógica especulativa. No Rio de Janeiro, por exemplo, 69,7% das áreas ocupadas acima dos 100 metros de altitude (cota 100) no município - um total de 11,7 milhões de metros quadrados - estão nas mãos das classes média e alta, segundo dados do Instituto Pereira Passo (IPP). Por outro lado, apenas 30% são de favelas. Em termos populacionais, a relação se inverte: 73,5% são moradores de favela. Os territórios dos ricos e dos pobres compõem conjuntamente o mosaico da desordem urbana.

Os fenômenos climáticos, por sua vez, são hoje previstos com a precisão e antecipação que permitiriam a adoção de ações preventivas pelos governos municipais e estaduais que poderiam senão evitar algumas destas catástrofes, pelo menos minimizar bastante os custos materiais e humanos. Conhecendo a vulnerabilidade das áreas ocupadas através de mapeamentos por satélites e sabendo com antecedência a ocorrência dos incidentes climáticos, as Prefeituras e os Governos Estaduais poderiam ter planos de emergência de defesa civil que protegessem a população. Advertindo as pessoas que moram nestas áreas dos eventos previstos e oferecendo alternativas de moradias, formas de evacuação de áreas, etc. Da mesma maneira, a circulação viária poderia ser alterada por um sistema de alerta preventivo, evitando que as pessoas saindo ou indo para o trabalho fossem surpreendidas pelo transbordamento de canais, rios e lagoas.

Mas não se tem um sistema de defesa civil que proteja efetivamente a população. A razão decorre da lógica de gestão das nossas cidades. Os governos municipais e estaduais são hoje comandados por elites que se orientam por uma concepção gerencial, que pretendem tratar as cidades como se fossem empresas. Na maioria dos casos, esta orientação se materializa na constituição de bolsões de gerência técnica, diretamente vinculados aos chefes do executivo e compostos por pessoas recrutadas fora do setor público. Este modelo de empresariamento urbano, que se pretende mais eficiente, implica no abandono e mesmo desvalorização da organização burocrática cuja função é, de um lado, a aplicação dos mecanismos de regulação da produção da cidade, portanto o planejamento do funcionamento e crescimento da cidade. Os salários dos funcionários são aviltados, suas carreiras perdem prestígios, não são capacitados, os cadastros são abandonados e mesmo a base técnica dos órgãos públicos é fragilizada. Por outro lado, como ela é também responsável pela provisão de serviços urbanos básicos para a população, mobiliza recursos e é titular de competências de grande utilidade na viabilização da gramática política do clientelismo, do cartorialismo e do corporativismo que sustenta em termos político-eleitoral os projetos de empresariamento urbano comandado pelas novas elites políticas. Recursos e competências desta burocracia são usados como moeda de troca nas transações que dão sustentação política a estas elites modernizantes, na forma de favores, omissões, proteções, cargos, prebendas, etc.

Se é verdade, portando, que estas catástrofes são geradas por incidentes climáticos fora do comum, os seus efeitos resultam de um padrão muito comum de gestão das nossas cidades, onde o planejamento, a regulação e a rotina das ações são substituídos por um padrão de operações por exceções, com organismos públicos fragilizados tentando responder casualmente aos efeitos sobre a população de uma cidade em situação de indefesa permanente. Estamos diante dos resultados de uma catastrófica gestão urbana.

terça-feira, 6 de abril de 2010

III Congresso Internacional Cotidiano – Diálogos sobre Diálogos

Faculdade de Educação da UFF –
Rua Visconde do Rio Branco 882,
Campus do Gragoatá, bloco D, sala 515, São Domingos, Niterói.
CEP: 24.020-200
Tels. 2629-2642; 2629-2691
www.grupalfa.com.br/congressoIII
congressocotidiano@gmail.com

segunda-feira, 5 de abril de 2010

PROJETO DE EXTENSÃO "GRUPO DE ESTUDOS DE GEOGRAFIA HISTÓRICA"

Estão abertas as inscrições para o projeto de extensão "Grupo de Estudos de Geografia Histórica". Ele é coordenado pelo prof. Marcelo Werner da Silva, do curso de geografia do Polo Universitário de Campos, da Universidade Federal Fluminense. Foi elaborado a partir da experiência do semestre passodo, em que foi ministrado o curso de extensão "Introdução à Geografia Histórica".

O grupo discutirá, na forma de seminários, textos relevantes para a geografia em geral e para a geografia histórica em particular. Nesse semestre analisaremos a obra "Território e História no Brasil", de Antonio Carlos Robert Moraes.
Poderão participar alunos da UFF dos diversos cursos, alunos de outras Instituições de Ensino e interessados em geral. Os participantes que tiverem frequencia mínima e realizarem as atividades/avaliaçõ es solicitadas, terão direito a um certificado de extensão de 30 horas emitido pela PROEX/UFF. Os encontros se iniciarão no dia 16/04/2010 e serão sempre às sextas-feiras das 14:00 às 17:00 horas em sala da UFF/Polo de Campos dos Goytacazes/RJ, situado à Rua José do Patrocínio, 71 - Centro - Campos dos Goytacazes - RJ, devendo encerrar-se no dia 09/07/2010.

Maiores informações constam no blog do grupo: http://www.gegh. blogspot. com/

As inscrições obedecerão aos seguintes procedimentos:

1. Enviar email para gegh.uffcampos@ gmail.com, manifestando interesse em participar. Será enviada uma confirmação de recebimento do pedido.

2. Comparecer para entrevista no dia 09/04/2010 (SEXTA) às 14 horas na UFF/Polo Universitário de Campos dos Goytacazes - Rua José do Patrocínio, 71 - Centro - Campos dos Goytacazes - RJ, em sala a ser divulgada oportunamente.

3. A relação dos participantes selecionados será divulgada no blog no dia 10/04/2010.

4. Os encontros iniciarão no dia 16/04/2010, às 14 horas.

OBSERVAÇÃO: Para esse semestre, devido à dinâmica de discussão em seminários, ofereceremos apenas 15 vagas. Quaisquer dúvidas poderão ser enviadas para o email acima. Em anexo o cartaz de divulgação do curso.