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segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Geografia na sala de aula: a importância dos materiais didáticos

A Geografia na sala de aula: a importância dos materiais didáticos

Sueli Ângelo Furlan1

Mesmo antes do ingresso na escola, a criança observa, pergunta e procura explicar o mundo em que vive. Esse modo de ler nosso dia-a-dia está impregnado de Geografia. Na escola é importante que o aluno possa ampliar, rever, reformular e sistematizar as noções que construiu, de forma espontânea, através da aprendizagem de conteúdos da Geografia.

Esse processo de ampliação, reformulação e sistematização é sempre inacabado ao longo da vida de uma pessoa, mas a escola tem um papel importante na sua consolidação. A Geografia como leitura do mundo que vivemos é uma construção gradativa, que ocorre na escola, à medida que os alunos aprendem a observar, perguntar-se sobre o que observam, descrever, comparar, construir explicações, representar e espacializar acontecimentos sociais e naturais de forma cada vez mais ampla, considerando dimensões de tempo e do espaço.

Por isso o ensino de Geografia não se restringe à exposição do professor, à leitura do livro didático, à memorização de conceitos ou às respostas de questionários. É algo muito mais complexo e desafiador. Envolve a compreensão de um modo de pensar e explicar o mundo, pautada em noções, conceitos, procedimentos e princípios através dos quais os fatos são estudados e contextualizados no tempo e no espaço.

Para promover a ampliação do conhecimento dos alunos a respeito de temas cuja relevância é de inquestionável valor para a sociedade atual, os materiais didáticos são fundamentais no trabalho do professor.

Em Geografia, os conteúdos trabalhados enfocam, explícita ou implicitamente, temas relacionados à sociedade e à natureza e isto é um grande desafio para esse campo do conhecimento e, do mesmo modo, para o trabalho escolar. Por exemplo: qual deve ser a abordagem geográfica do estudo do clima no Ensino Fundamental? Sabemos que para entender os fenômenos climáticos, necessitamos conhecer a natureza desses fenômenos, ou seja, como o clima acontece. Mas em Geografia é preciso também entender como o clima se relaciona com a nossa vida. Como o clima está relacionado com a agricultura, com as cidades, com a saúde e como as práticas sociais interferem no clima? Como tratar do clima buscando essa articulação dos conhecimentos científicos, transformando-os em conhecimentos escolares? Em primeiro lugar, é preciso ter claro que os temas geográficos sempre buscam um enfoque socioambiental. Portanto, não se deve separar o estudo do clima (como fenômeno da natureza) do estudo social (das interações humanas com o clima). Por outro lado, os estudos geográficos não podem deixar de enfocar a sociedade e a integração com outras áreas. Além disso, os estudos escolares devem promover também a ampliação dos conhecimentos sobre ética, trabalho e consumo, saúde, pluralidade cultural e a diversidade ambiental que caracterizam nosso país e o mundo.

O trabalho do professor de Geografia precisa ser ancorado por uma ampla variedade de materiais que possibilitem planejar boas situações didáticas, buscando essa articulação ampla de conteúdos que acabamos de citar. Criar situações que permitam que os alunos possam progredir em suas aprendizagens sobre o mundo e sua própria vida nas diferentes paisagens que compõem esse mundo é a “meta geográfica” da sala de aula. Portanto, os materiais devem promover discussões e favorecer o desenvolvimento de uma atitude propositiva perante os temas abordados. Podem conter ou permitir ao professor planejar atividades em que os alunos são convidados a informar, comunicar e influenciar colegas, funcionários da escola, os familiares e a comunidade mais ampla na sua compreensão de que todos fazem parte dos assuntos e problemas discutidos pela escola, tais como a conservação ambiental, a relação entre qualidade de vida e saúde, a valorização da pluralidade cultural e da diversidade ambiental, o ingresso no mundo do trabalho e as desigualdades socioeconômicas.

Os materiais escolhidos pelos professores para o seu trabalho didático podem também dar ênfase aos temas que possibilitem a criação de projetos que envolvam mudanças de atitudes e discussão dos valores dos próprios alunos. Para isso, costumamos dizer que o professor de Geografia não deve restringir o seu trabalho ao uso de um único tipo de material, por exemplo o livro didático.

Já é comum observar, no trabalho com a Geografia na sala de aula, quase sempre ancorado pelo livro didático, a necessidade do uso de diferentes materiais. O que é menos freqüente observar é a criação pelo professor de situações em que ele seja protagonista de suas próprias seqüências didáticas. Explicando melhor: por exemplo, o uso de uma fonte textual de revista ou de jornal pode ser objeto de trabalho dos alunos como leitura de aprofundamento, leitura de informação de atualidade, ou mesmo como fonte de problematização de um tema de pesquisa. No entanto, muitas vezes o uso dessa fonte se faz sem que o professor estabeleça objetivos para este uso, considerando o planejamento de uma seqüência de atividades pensadas e coerentes com os objetivos de aprendizagem, ou seja, do planejamento de uma situação em que este material faça parte de suas estratégias de trabalho a partir desses objetivos. Prevalece um uso espontaneísta dos materiais, como se eles dessem conta de “ensinar sozinhos”. Defendemos que qualquer material didático precisa entrar na sala de aula dentro de um planejamento que permita ao aluno desenvolver conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais através do seu uso. Tradicionalmente, os materiais têm sido mais utilizados como fonte de informação conceitual e muito menos como meios, nos quais o fazer de alunos e professores se combinem para que o aluno possa confrontar conhecimentos, desenvolver habilidades, problematizar questões geográficas, etc. Os materiais podem e devem promover a aprendizagem, pois podem envolver os alunos em situações concretas de estudo, cuja realização implica a aprendizagem de procedimentos, valores e atitudes característicos do ofício de estudante.

O professor de Geografia tem, neste sentido, uma ampla variedade de fontes documentais que pode utilizar. Vamos discuti-las brevemente caso a caso.

Uso de fontes textuais

Ø O livro didático como fonte de informação e material de leitura

livro didático tem sido o material mais freqüente no cotidiano escolar do aluno. O livro é usado de diferentes maneiras: como fonte de informação, como seqüência de conteúdos, às vezes até como currículo e, muitas vezes, como seqüência didática. Em relação a isto, o livro guarda em si mesmo uma enorme responsabilidade. Deve ser fonte atualizada de informações, conter textos de boa qualidade, propor atividades interessantes e que permitam o conhecimento geográfico estudado se ajustar ao conhecimento do aluno. Com essa ampla tarefa, o livro, em seus limites restritos, efetivamente não pode cumprir sozinho todas as expectativas depositadas nele.

Neste sentido, o livro didático é o principal material de sala de aula, mas oferece um contexto fragmentado e muitas vezes superficial no qual o professor pode e deve se pautar para definir sua estratégia de trabalho, mas nunca adotá-lo como o único material. Uma primeira iniciativa, ainda difícil, é conceber o livro sem linearidade. Não é preciso seguir o livro página a página, capítulo a capítulo. Embora os livros, em sua maioria, tenham sido pensados pelos autores para serem usados como seqüência de conteúdos, o professor tem autonomia e liberdade de planejar o seu trabalho a partir de recortes necessários à sua turma de alunos. Vale lembrar ao professor o seu papel de mediador entre os alunos e as fontes de informação utilizadas no processo de aprendizagem. Eventualmente, pode ocorrer de os alunos não compreenderem ou não conhecerem o significado de um assunto, de um texto, ou do vocabulário específico da Geografia que está no livro. Cabe ao professor, como mediador do livro, ajudá-los a resolver as dúvidas lingüísticas, orientar procedimentos de busca de novas informações, comparar idéias a respeito do tema, debater com os colegas, etc.

É possível flexibilizar a seqüência de conteúdos proposta nos livros didáticos de Geografia e permitir, por exemplo, que o tema urbanização dialogue como tema da água, ou das enchentes e bacias hidrográficas. Para isto, o professor tem que intervir e planejar seqüências didáticas que não estão prontas nos livros didáticos. Ele pode lançar mão de uma variedade de materiais complementares que possam ser trabalhados junto com o livro, tais como outras fontes documentais.

Ø Outras fontes documentais: Revistas e jornais, na pesquisa e debate de informações geográficas, temas de atualidade.

O trabalho com documentos é especialmente importante no ensino de Geografia, pois através deles os alunos podem compreender o conhecimento geográfico enquanto elaboração humana, realizada por pessoas em determinados contextos. Para conhecer a paisagem, ler sobre ela, é preciso ter acesso a fontes documentais, que forneçam pistas para aquele que realiza a pesquisa construir seu conhecimento. As revistas e jornais além de outras fontes documentais, tais como livros de arte, álbum de fotografias, cartões postais, relatos de memórias, livros de cartas, livros de literatura, biografias, etc. fornecem aos professores uma diversidade de documentos que podem ser articulados ao uso do livro didático no estudo de temas geográficos.

É importante, nessa articulação, ressaltar que os documentos não representam a verdade sobre uma determinada época ou lugar. Eles revelam ou fornecem pistas para aqueles que os consultam parte da realidade passada ou presente. Estão impregnados pelos valores de quem os produziu. O aluno precisa, neste sentido, conhecer sempre quem escreveu aquilo que ele está lendo, em que época, em que contexto e para quem escrevia. Por isso, é fundamental ensinar os alunos a ter uma posição mais interrogativa e crítica frente aos documentos, incentivando-os a refletir sobre as intenções daqueles que os elaboraram. O professor, ao permitir que as revistas e jornais entrem na sala de aula, deve propor aos alunos pesquisarem informações adicionais que os ajudem a contextualizar os documentos oferecidos a eles. Existem muitas revistas de geografia que podem ser adquiridas em banca de jornal ou por assinatura, portanto esse material pode se tornar menos raro na escola. O hábito de uso da revista deve ser mais incentivado. Ainda é muito pouco freqüente esse hábito entre os professores.

Ø Livros paradidáticos abordagem temática de aprofundamento de conteúdos

Esse material vem sendo cada vez mais utilizado nas escolas, pois cumpre o papel de aprofundamento conceitual que o livro didático muitas vezes não consegue alcançar. Existem coleções paradidáticas de Geografia para todas as etapas da escolaridade, que oferecem seqüências de conteúdos muito boas para desenvolvimento do trabalho, por exemplo, com projetos. Neste caso as resenhas, os fichamentos e a leitura têm sido os hábitos mais difundidos no uso destes materiais. Algumas coleções têm sido adotadas para atuar no papel central de material didático de sala de aula, ou seja, substituindo o livro didático, mas isso é mais difícil na escola pública. O papel dessas coleções tem sido possibilitar a abordagem temática de conteúdos de Geografia e, muitas vezes, são usadas como material de atualidades. A leitura é a prática mais comum, no entanto as mesmas observações feitas para os livros didáticos valem para esse material, ou seja, o professor é sempre seu mediador, o material não precisa ter um uso linear.

Ø Produção de textos como fonte documental os textos produzidos pelos alunos.

O material produzido por alunos e professores constitui-se uma valiosa fonte documental. Muitas vezes a consolidação de conhecimentos inéditos sobre os lugares acontece quando o próprio grupo produz. No Brasil não existem informações sobre os lugares e suas paisagens e a escola é o lócus privilegiado de produção deste conhecimento. Textos, coleções de mapas, documentação fotográfica podem ser produzidos para serem revisitados, questionados e ao mesmo tempo formar uma memória documental dos diferentes lugares do Brasil. Normalmente não se valoriza tanto essas produções como aquelas que recebem tratamento editorial mais comercial, mas o que os professores muitas vezes não sabem é que livros didáticos e paradidáticos muitas vezes nascem destes materiais. Hoje, com os recursos da informática podemos melhorar a qualidade editorial dessas produções, utilizando softwares para produção de textos e trabalho com multimídia. Isto depende, no entanto, de investimentos na infra-estrutura escolar. A produção de material didático escolar deve ser valorizada pela própria escola. O seu uso, evidentemente, deve partir dos mesmos princípios pedagógicos comentados anteriormente.

Uso dos mapas

Ø O uso dos mapas em diferentes situações didáticas

A leitura espacial é uma aprendizagem específica para a Geografia. Todas as pessoas têm noções espaciais, mas a Geografia em particular é a ciência que sistematiza os procedimentos de leitura e escrita da linguagem cartográfica. A cartografia é um meio de transmissão de informação. Estamos deixando para trás a época em que, na escola, somente se copiavam mapas, pela simples razão de copiá-los, não objetivando a análise das relações que ocorrem no espaço geográfico, ou mesmo não discutindo as intenções de quem produziu estes mapas.

A cartografia escolar, além de constituir um recurso visual muito utilizado, oferece aos professores a possibilidade de trabalhar em três níveis:

1. Localização e análise – Quando se trata um fenômeno em particular e procura-se lê-lo espacialmente. Por exemplo, a distribuição das chuvas no Brasil, a ocorrência de florestas tropicais, os tipos de solos, as regiões mais populosas, etc.

2. Correlação - São muitas as situações em que os professores podem combinar duas cartas de análise para correlacionar simultaneamente dois fatos. Por exemplo, a ocorrência de florestas tropicais e a distribuição das chuvas no Brasil.

3. Síntese – Ao se reunir vários mapas de análise, estamos realizando uma síntese. Por exemplo, o professor pode juntar os mapas de chuvas no Brasil, florestas tropicais e população para discutir os problema do desmatamento ou erosão dos solos.

O Atlas, em geral, contém mapas analíticos que devem ser trabalhados nos três níveis. É fundamental, no entanto que o professor inicie com as crianças pequenas oferecendo os primeiros passos da alfabetização cartográfica. Ou seja, a partir de um texto (o mapa), o aluno inicie a leitura (a linguagem do mapa). O que é fundamental neste aspecto do uso dos mapas? Em primeiro lugar, utilizar o Atlas ou mapas avulsos, aproveitando o interesse natural das crianças. Para isso, podemos utilizar inúmeros recursos visuais, desenhos, fotos, maquetes, plantas, mapas, imagens de satélite, figuras, tabelas, jogos e representações feitas por crianças, acostumando o aluno com a linguagem visual. O conteúdo programático para o estudo dos mapas é desenvolvido segundo o saber ensinado e o saber adquirido na escola ou fora dela, sendo que os temas devem ser aprofundados de forma progressiva, acompanhando o conteúdo da Geografia e o desenvolvimento da criança. O trabalho com produto cartográfico já elaborado é o trabalho que deve ser feito a partir da alfabetização cartográfica.

Em geral, da 5a série em diante o professor deve buscar a leitura de mapas para formar um leitor crítico ou mapeador consciente ao final do processo do Ensino Fundamental.

O uso do mapa quotidianamente na sala de aula favorece o trabalho nesta direção. Podemos dizer que toda aula de Geografia deve se apoiar em mapas. O problema básico que o professor tem a enfrentar é o da percepção que o aluno tem sobre um determinado fenômeno, portanto sua percepção individual, sua leitura individual daquele espaço, sua criatividade e seu processo de cognição.

A utilização de croqui nos três níveis propostos tem sido uma prática valiosa para o desenvolvimento da representação figurativa e ajuda o aluno a se colocar despojadamente diante dos mapas que, muitas vezes, exigem níveis de aquisições de leitura e escrita cartográfica que só se concretizam com o tempo. Pode-se ensinar, por exemplo, a elaboração de croquis de localização, de correlação e síntese.

Ø Mapas e o estudo do Meio

Cada paisagem é um todo, que pode ser compreendido desde as suas partes. Enquanto totalidade, as paisagens envolvem componentes naturais e humanos e, sobretudo, a maneira como apreendemos esses componentes.

Na leitura da paisagem, nos aproximamos de diversas e não raras vezes diferentes e divergentes maneiras de apreensão e compreensão da paisagem, expressas nos sentimentos e na memória das pessoas, nos textos científicos sobre o lugar, na literatura, no modo de vida das pessoas. Essa apreensão está relacionada também às nossas referências, ou seja, àquilo que conhecemos de antemão, às nossas vivências, à nossa maneira de perceber e compreender o mundo. Alguns procedimentos, entretanto, nos são comuns.

Ao entrar em contato com uma paisagem, procuramos observá-la, descrevê-la, compará-la com aquilo que conhecemos, explicá-la. Esses procedimentos, na escola, devem ser ampliados. É preciso ensinar os alunos a perceberem uma paisagem não apenas por meio daquilo que nela podemos enxergar, mas também através dos sons, das cores, dos cheiros que nela percebemos. Principalmente, devemos ensinar os alunos a olhar a paisagem buscando além daquilo que nos é mais imediato, observá-la de maneira intencional, procurando explicá-la. O estudo do meio tem sido uma maneira didática prazerosa de aprender sobre a paisagem.

Nem sempre as explicações que construímos dão conta da totalidade da paisagem. Nem sempre temos a intenção de abarcar essa totalidade. Às vezes, nos interessam apenas alguns aspectos da paisagem. Neste sentido, a produção e as representações por mapas, maquetes e croquis ampliam as possibilidades dos alunos para refletir sobre os objetos e os seus conteúdos nem sempre visíveis. Por exemplo, a leitura da paisagem por meio da representação de suas estruturas auxilia também a perceber que muitos problemas enfrentados no bairro, na cidade, no município e em outras paisagens são resultados de ações humanas, nem sempre tão explícitas. O uso dos mapas também auxilia a contextualização das paisagens em seus aspectos naturais e sociais. Por exemplo, estar ou não numa região metropolitana, estar ou não na caatinga, estar ou não nas margens de um rio sujeito a inundações. O uso dos mapas em estudos do meio para leitura de paisagens é um procedimento que permite responder o porquê das coisas e fenômenos que estão sendo lidos.

A produção de análises e correlações também auxilia a compreender a extensão das diferentes interações entre sociedade e natureza.

Ø Escrita e produção de mapas

As construções de novas fontes de leituras de assuntos estudados sínteses locais de temas estudados são fundamentais como forma de documentação dos lugares. Muitas vezes sem nenhum registro cartográfico. A produção de mapas e croquis pode representar a única fonte acessível à escola, uma vez que os produtos cartográficos oficiais são caros e mais raros. Essa produção pode ser temática, pode partir de um assunto da turma de alunos, pode ter tema de projetos coletivos, etc.

Uso da imagem

As imagens têm um papel importante no estudo da Geografia. A força das imagens nos dias atuais é inquestionável. Elas constituem material didático extremamente importante para o professor. Vale a pena ressaltar que, tradicionalmente, os materiais didáticos produzidos para os livros didáticos não trazem fontes documentais reproduzidas na íntegra, muitas vezes não atribuem autoria, nem datam as imagens. Dessa forma, restringem o acesso dos alunos à informação. Para a Geografia, as imagens são documentos que revelam intencionalidade de quem as produziu, devendo ser contextualizadas e datadas. Alguns tipos de imagens são mais usuais na sala de aula do que outros. Vamos comentar brevemente as potencialidades desses usos.

Ø Programa de vídeo utilizado em conjunto com outros materiais

O vídeo entra na sala de aula dentro de um contexto didático planejado pelo professor. Nesse sentido, ele pode ter diferentes usos.

Neste pequeno texto a seguir resumimos como o trabalho com a imagem pode ser desenvolvido pelo professor, considerando seus objetivos de ensino. Existem muitos exemplos de como a televisão ou o cinema podem entrar na sala de aula como auxiliares ou detonadores de um processo de aprendizagem.

A seguir, apresentamos dez sugestões de atividades com videoaulas propostas pela Profa. Mônica Segreto:

1. Procure desenvolver a oralidade, estimulando os alunos a falarem sobre o que viram no vídeo. No caso de filmes de ficção, sugerir, por exemplo, que os alunos modifiquem o desfecho da história, que criem outras falas para os personagens, que relacionem a história com outras.

2. Solicite que os alunos façam associações das questões levantadas pelo vídeo com o meio em que vivem (o bairro, a rua, a escola, etc.). É importante incentivar o aluno a trazer suas experiências para dentro da escola. Ao exprimir a emoção através das palavras, o aluno articula, organiza o pensamento.

3. Pode-se dramatizar as cenas mais marcantes do vídeo. Estimule a expressão musical, plástica e artística dos alunos.

4. Os vídeos podem gerar vários tipos de textos, como poesias, narrativas, relatórios, etc. Os textos podem ser organizados em jornais de sala de aula, etc.

5. Após assistir ao vídeo, observando os enquadramentos da câmera, o professor pode solicitar aos alunos para representar ou recriar os melhores momentos do vídeo.

6. Trabalhando com os sons. Chame a atenção para a música e sons do ambiente apresentados no vídeo. Faça a experiência de abaixar o volume do áudio e peça para os alunos recriarem ritmos que traduzam o clima do vídeo, por exemplo passagens mais românticas, dramáticas, cômicas, suspense, terror.

7. Simule um tribunal de julgamento com todos os seus elementos: juiz, advogado de defesa, promotor, escrivão, jurados. As idéias contidas no vídeo serão atacadas e defendidas neste tribunal.

8. Pesquise você mesmo um pouco da televisão que os seus alunos assistem. Compare as imagens dessa televisão cotidiana com aquelas que você escolher para entrar na sala de aula. Discuta com outros professores este assunto e proponha atividades conjuntas a partir das imagens.

9. Peça para os alunos uma pesquisa sobre os comerciais que conhecem. Discuta aspectos estéticos, de conteúdo e a natureza das escolhas dos alunos. Peça para os alunos criarem comerciais e discuta os objetivos de suas criações.

10. Forme equipes de reportagens na classe para entrevistar pessoas da escola sobre algum tema suscitado pelo vídeo. A partir das entrevistas, faça um jornal de sala de aula que poderá ser apresentado em uma TV feita com caixa de papelão.

Ø Fotografia: produção e leitura da imagem de uma fotografia

O trabalho com o registro fotográfico pode ser muito útil como forma de ensinar como se produz leituras através do olhar. Isto é fundamental para a Geografia, pois a representação geográfica, seja pelos mapas, fotos, vídeos, sempre coloca em jogo o autor e as técnicas. Por esta razão a sala de aula de Geografia pode conter uma farta cobertura de exemplos de tipos de documentos fotográficos, sejam eles as imagens de diferentes épocas, as fotografias produzidas pelos próprios alunos, as imagens de satélite, as fotografias aéreas, as imagens dos livros didáticos e paradidáticos, etc. O professor pode explorar esse material de várias formas, dentre elas:

ü Solicitando trabalho de interpretação de imagens, com perguntas.

ü Solicitando comentário oral ou em texto sobre as imagens.

ü Sugerindo complementação com pesquisa individual ou coletiva em outras fontes imagéticas sobre um mesmo tema, tais como nos jornais, revistas, enciclopédias, arquivos municipais, etc. Nos jornais, é muito interessante comparar como diferentes fotógrafos e editores de jornais tratam o mesmo assunto através de imagens diferentes. Provocar nos alunos a sua percepção e discutir as possíveis intencionalidades das imagens produzidas na mídia.

ü Procurando compará-las com outras fontes complementares de imagem, ou transformando em outras linguagens (por exemplo transformando uma imagem fotográfica em outra imagem sob forma de desenho, uma tabela em gráfico, comparando diferentes imagens de lugares). Atualmente, já é possível também analisar páginas da Web na Internet. Ler as notícias pelo veículo da imagem. O que elas procuram nos contar? Como podemos lê-las?

“Cada indivíduo cria sua própria imagem, mas parece existir uma coincidência fundamental entre os membros de um mesmo grupo. Existem imagens públicas, representações mentais comuns em grande parte dos habitantes de um mesmo lugar... Existe uma interação de uma realidade física única, uma cultura comum e uma natureza fisiológica.” (Lynch, 1980).

Seguindo as idéias de Lynch, podemos dizer que o trabalho com a percepção da imagem pelos alunos pode ajudar em sua competência leitora do mundo, mostrando a eles que as imagens que lemos são recortes da visão e da intenção de quem as produziu. Elas registram o tempo e o olhar de seus autores. Além disso, elas também se configuram como uso da técnica, pois os instrumentos (máquinas fotográficas, câmeras de vídeo, televisão e computadores) são seus intermediários.

NOTAS:

1 Professora do Departamento de Geografia – FFLCH-USP, assessora da SEF/MEC no Programa Parâmetros em Ação.




SALTO PARA O FUTURO / TV ESCOLA
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