AS GEOGRAFIAS DAS MÚSICAS: POSSIBILIDADES PARA O ENSINO
Música para compor o ambiente
Música para escovar o dente
Música para fazer chover
Música para ninar nenê
Música para tocar novela
Música de passarela
Música para vestir veludo
Música pra surdo-mudo
(Música para ouvir - Arnaldo Antunes)
A música está presente no dia-a-dia das pessoas. Já pela manhã é comum ver nas ruas, nos ônibus e nos carros, pessoas ouvindo música. Os fones de ouvido, ou mesmo os gestos por trás dos vidros dos automóveis denunciam isso: os dedos que batucam no volante ou as bocas que se movem ao acompanhar o refrão que é tocado no rádio. Há músicas nas ruas, nos templos e igrejas, nas casas, nos bares. Quando não são tocadas “ao vivo”, são reproduzidas dos mais diversos formatos e meios, pois podem estar em MP3 ou AVI em celulares e iPods; rádios AM’s e FM’s, CD ou DVD nos aparelhos de som domésticos ou dos carros; e até mesmo em fitas K7 ou discos de vinil – cada vez mais raros nos dias atuais. As músicas também têm presença certa nos filmes e programas de TV, e nos eventos marcantes da vida das pessoas, como nos casamentos ou bailes de debutantes. Entretanto, mesmo que em uma casa nenhum aparelho de som seja ligado para que a música seja tocada, ela continuará presente no cotidiano da sociedade, seja advindo de outras residências ou de estabelecimentos comerciais.
Nas salas de aula, é crescente o número de professores de Geografia que se utilizam das músicas como recurso didático. Muitas vezes o foco é dado para a letra, na qual o professor encontra elementos para pensar e discutir paisagens, ou o contexto em que foi escrita. Contudo, a música pode oferecer mais subsídios para enriquecer as aulas de Geografia.
A música retrata a cultura e a memória do povo. Murray Shafer, precursor das pesquisas sobre soundscapes (paisagens sonoras), no livro intitulado “O ouvido pensante” define a música como uma “coleção de sons concebidos e produzidos por sucessivas operações de pessoas que ouvem bem”. Nesse sentido, quando a música é executada, integra-se à paisagem sonora tornando-se um de seus elementos.
A música de um lugar oferece ao estudo geográfico elementos para a leitura acerca dos valores atribuídos ao mesmo. Para o geógrafo George Carney, a música tanto reflete quanto influencia as imagens que as pessoas possuem de lugares e a forma como essas imagens mudaram significativamente as atitudes das pessoas para com lugares. Assim, as músicas tradicionais e/ou regionais apresentam-se ao estudo geográfico como importante material à interpretação dos lugares, que, como exemplo, podemos citar no Brasil o xote e o baião do nordeste, o maracatu rural do interior de Pernambuco, o fandango no litoral paranaense e paulista, o tambor de crioula do maranhão, a congada de Minas Gerais, entre outras.
O estudo da música deve levar em consideração o lugar onde ela é produzida e tocada, com seus valores sociais e culturais. Pensar o lugar remete a pensar na localização e nas paisagens que este comporta.
Cada cidade, cada lugar, tem sua identidade sonora, numa variação de sons entre um lugar e outro, e também entre os tempos e as culturas. A identidade sonora de um lugar pode estar representada em uma música, quando esta apresenta os elementos da paisagem do mesmo. Nesse sentido, Lily Kong, em um trabalho datado de 1995 sobre a música popular, afirmou que a música pode transmitir imagens do lugar, e também pode servir como fonte primária para compreender a natureza e a identidade dos lugares.
Dessa forma, cada lugar e cada contexto histórico e sócio-espacial oferecem as bases para se pensar a música. O estudo geográfico através da música deve compreender sua localização, a cultura, as influências da paisagem local, sonoro-musicais do passado local, e as influências sonoro-musicais externas. Segundo Lily Kong, no contexto da análise musical deve-se haver uma preocupação tanto para o lugar simbólico da música na vida social, bem como para os simbolismos empregados na música.
Diante disso, o professor, ao explorar uma música com seus alunos, poderá superar a simples análise da letra, e buscar em seus elementos sonoros subsídios para as seguintes questões: a) quais as sensações produzidas por meio da melodia e harmonia?; b) quais os instrumentos musicais e ritmos empregados, e quais suas histórias e origens? Esses questionamentos podem contribuir na busca da compreensão dos lugares – portadores de significados e valores – o que será de extrema importância na interpretação dos fenômenos que os envolvem.
Referências:
SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.
CARNEY, G. O. Música e lugar. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (orgs.). Literatura, música e espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007.
KONG, L. Popular music in geographical analyses. Progress in human geography. v. 19, pp. 183-198, 1995.
Para saber mais:
Para ler sua dissertação de mestrado "A paisagem sonora da Ilha dos Valadares: percepção e memória na construção do espaço" clique aqui.
Para ler seu artigo "Da paisagem sonora à produção musical: Contribuições geográficas para o estudo da paisagem", publicado na Revista Geografar da UFPR, clique aqui.
Marcos Alberto Torres é geógrafo, mestre e doutorando em geografia pela UFPR.
LISTA DE LUGARES A SEREM VISITADOS NO ANO DE 2006
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Falar com Leila a partir das 11 horas.
BIBLIOTECA NACIONAL
Rua México, s/n - Centr...
Há 19 anos
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