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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Construção do Espaço Escolar a Partir do Olhar

Este artigo foi escrito de forma conjunta e tem como base as experiências obtidas na disciplina Estágio Supervisionado em Geografia II, realizado no Colégio Estadual Conselheiro Macedo Soares.

Neste artigo vamos analisar a experiência em sala de aula, atentando para as práticas docentes e discentes do cotidiano escolar. Visando compreender universos que se complementam, mas também se distanciam. Os professores possuem uma visão cristalizada do que é o aluno e a instituição escolar, o que remete à suas próprias experiências. Visto que hoje as transformações da sociedade estão cada vez mais aceleradas e isso se reflete no cotidiano escolar e entra em choque com uma instituição engessada, que alimenta em sua raiz um tipo de aluno, de comportamento, de valores, que se contrapõe cada vez mais com uma sociedade midiatizada. Nessa sociedade a libertação dos corpos é o padrão a ser reproduzido. A formação de olhares tão distintos surge então, como o grande desafio a ser superado para a construção de um novo espaço escolar.

Nas conversas com os professores, era costumeiro ouvir as insatisfações com o comportamento dos alunos, com a escola e com a profissão. Os professores nos questionavam com freqüência o que nos levava a querer seguir a carreira de professor, ficando claro que não acreditavam mais na função social da escola. A visão pessimista acerca da escola e a desmotivação eram sustentadas por um discurso pautado na falta de comportamento dos alunos, ou seja, os alunos serviam de justificativa para as péssimas aulas dadas pelo professorado. Ao mesmo tempo em que aluno e professor estabelecem uma relação de óbvia complementaridade, também se afastam por não conseguirem se compreender e dialogar. E aí chegamos à construção de olhares e percepções completamente diferentes.

É preciso entender a importância da construção do olhar como uma ferramenta de contemplação da diversidade. Esse processo de construção do olhar parte do acúmulo de experiências e vivências. Esse acúmulo consegue moldar a nossa percepção e também a própria forma como observamos as coisas. Mas essa contemplação que nos referimos anteriormente só pode acontecer a partir do reconhecimento de olhares diferentes do seu e do desprendimento das suas próprias concepções. É saber enxergar com outro olhar, um olhar diferente do seu e admitir que eles possam coexistir. Há conflitos entre os sujeitos sobre o que é o aluno, o que é o professor e qual é a função da escola. Esse conflito entre olhares é uma causa da distância entre alunos e professores.

Por onde acompanhamos em sala de aula, vimos uma relação de completa conveniência. Ambos os sujeitos se limitaram numa relação que pensam ser imutável. A categoria indisciplina ganhava tanta força, que regia as relações. Mas se ficarmos presos na visão da rebeldia ser apenas rebeldia, não conseguiremos reconstruir as relações e conseqüentemente o espaço escolar. O professor mantinha sua concepção arraigada de que os alunos deveriam ser receptáculos do conhecimento e não sendo assim tudo estava perdido. Mas se na medida em que a liberdade do corpo pode nos dificultar a vida, pode também facilitar, pois se conhece muito dos alunos apenas os observando. Alguns momentos de “indisciplina” que pudemos presenciar, na verdade traziam muito do cotidiano, lembrando que a própria concepção de indisciplina do professor, foi concebida em outro tempo e está pautada em outros valores. Um caso que nos recordamos foi uma briga entre dois alunos da sala, um ofendeu a mãe do outro. Mas ofensas assim acontecem o tempo todo em sala de aula, só que a reação do aluno nos surpreendeu, pois foi uma reação de completo descontrole. Não sabemos o que aconteceu com a mãe do aluno, ou mesmo qual a sua relação com ela, mas como podemos banalizar algo assim e considerarmos apenas mais um desentendimento entre alunos? Será que realmente existe essa categoria de desentendimentos banais dos alunos, ou todos eles querem no fundo nos gritar algo, só que não conseguimos apreender?

O grande problema por parte dos professores talvez seja a falta de entendimento das relações entre a sociedade e a escola. E isso se reflete no cotidiano escolar. A idéia que se tem da escola como aquela instituição que tem que disciplinar, que tem que ensinar normas de comportamento, que tem o maior peso na formação do indivíduo, ruiu. Nós mesmos divergimos quanto à causa dessa ruína, mas a causa aqui para a gente não importa, o que se tem que perceber é que a escola não é um objeto que se desprendeu no tempo e congelou na época de estudante dos muitos professores que compõe a escola. Ela se transformou junto com a sociedade e mesmo com transformações evidentes continua-se tentando um modelo que não consegue mais apreender a complexidade do que é o cotidiano escolar.

Um caso que vale a pena mencionar, é que enquanto escrevíamos esse relato, um estudante de ensino fundamental que faz taekwondo na Uerj, ouviu Fábio dizer que o estudante não conseguia se identificar com nada na escola. O jovem por volta dos quinze anos interpelou e disse: “Eu me identifico com o meu professor de português, um professor pode mudar um aluno”. E não poderíamos deixar de concordar. Acreditamos plenamente na capacidade individual do professor de realizar essas transformações. Mas isso também mostra que a escola como unidade que funciona de forma coletiva para seus objetivos está acabada. O espaço escolar se divide entre os professores que conseguem estabelecer o diálogo e os que não conseguem, sem haver um padrão que possa ser encontrado entre o dar certo e o não dar certo, o que só mostra a complexidade desse ambiente. A capacidade da escola está restrita no sucesso individual de uns e outros. E enquanto for assim a escola continuará falida.

Marcio Ornelas e Fábio Henrique Lima Costa são graduandos em geografia pela UERJ-FFP.

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