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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pnad 2009: Analfabetismo cai, mas ritmo ainda é lento

Pnad 2009: Analfabetismo cai, mas ritmo ainda é lento

Taxa de analfabetismo no país recuou para 8,9%, mas 1 em cada 5 brasileiros é analfabeto funcional; relatório do Pnad mostra que taxas mais altas estão concentradas entre os mais idosos
De 2008 para 2009, o número de analfabetos com dez anos ou mais no Brasil caiu mais que de 2007 para 2008, mas o ritmo da redução continuou lento. Enquanto na Pnad 2008 a taxa praticamente não se alterara em relação ao ano anterior, passando de 9,3% para 9,2%, na pesquisa de 2009 o indicador passou a 8,9% - menos 0,3 ponto.

Mesmo assim, no ano passado 14,533 milhões de brasileiros desse grupo etário não sabiam ler nem escrever, ante 14,736 milhões em 2008. Na faixa de 15 anos ou mais, em 2009, pela primeira vez a taxa ficou abaixo de 10% (porcentual de 2008), chegando a 9,7% - 14,1 milhões de pessoas. De 2004 a 2009, a redução foi de apenas 1,8 ponto.

No analfabetismo funcional - pessoas com menos de quatro anos de estudo - chegou-se a 20,3%: um em cada cinco brasileiros. O indicador recuou 0,7 ponto sobre 2008 e 4,1 sobre 2004. "A maior concentração de analfabetos foi registrada entre as pessoas pertencentes aos grupos de idade mais elevada: 92,6% deles tinham 25 anos ou mais", diz o relatório, Entre quem tinha de 10 a 14 anos, em 2009 a taxa era 2,5%; entre 15 e 17 anos, 1,5%; de 15 a 24 anos, 1,9%.

A partir daí, o indicador dá um salto, ultrapassando a média nacional na população com mais de dez anos: 10,3% para a faixa de 18 anos ou mais e 12% para quem tinha 25 anos ou mais. Em todos os grupos etários, houve recuo, com destaque para o grupo mais velho, cuja proporção, em 2008, era 12,4%. O porcentual de analfabetos com 10 anos ou mais em 2009 era maior entre homens (9,1%) que mulheres (8,8%).

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eduardo Nunes, o analfabetismo é produto de uma sociedade que "num passado não muito distante tinha um estoque de analfabetos muito alto, quando a população era jovem".

"Essa população vem envelhecendo. Então, aquele estoque de pessoas que no passado eram jovens e analfabetas hoje são idosas e analfabetas. É isso que faz a taxa de analfabetismo ficar num patamar alto e portanto sua queda seja lenta", explica Nunes. "Agora, da população até 14 anos e de 14 até 25, o padrão de analfabetismo no Brasil é igual ao de países desenvolvidos", ressalta.

Os números da Pnad 2009 corroboram essas afirmações. Segundo o estudo, se a observação for restrita a quem tem 50 anos ou mais, a taxa de analfabetismo no ano passado chegava a 21% no Brasil e a 40,1% no Nordeste. É justamente no Nordeste que a taxa de analfabetismo, em 2009, era maior, situação já verificada em Pnads anteriores. Mas foi na mesma região que houve o maior recuo: de 17,7% para 17%, menos 0,7 ponto.

No Norte, caiu de 9,7% para 9,6%; no Sudeste, de 5,4% para 5,2%; e no Centro-Oeste, de 7,4% para 7,3%. No Sul, ficou em 5%. As diferenças se repetem no analfabetismo funcional: em 2009, 30,8% dos nordestinos estavam nessa situação, ante 31,6% em 2008 e 37,4% em 2004.

Mão de Deus

"O problema do analfabetismo se resolve pela mão de Deus: os analfabetos morrem", diz o especialista em educação Claudio de Moura Castro. Para ele, como o sistema não produz mais novos analfabetos e alfabetizar a partir "dos vinte e tantos anos" não funciona, as taxas de analfabetismo no país cairão lentamente, nos próximos anos. "São estatísticas inerciais. Até a velhinha de 100 anos analfabeta está puxando o número para baixo."

A falta de investimento e a dificuldade de implementar métodos pedagógicos atraentes são os principais entraves para a erradicar o analfabetismo no país, segundo especialistas. "Os programas têm enorme dificuldade em manter essas pessoas estudando. A evasão é muito grande", diz Mozart Ramos, do movimento Todos Pela Educação. "Por mais que se faça um esforço inicial grande em identificar e matricular esses adultos, eles não aguentam por muito tempo."

Para o diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV-RJ, Marcelo Neri, quanto mais avançada a idade, mais difícil é a inclusão em políticas de alfabetização. "Por isso os programas são caros e pouco eficientes."
(Wilson Tosta)
(Mariana Mandelli)

'Um cidadão não educado atrapalha a sociedade", entrevista com Daniel Cara

A pequena queda no número de analfabetos e a estagnação da taxa de escolaridade não são problemas apenas da educação brasileira, mas sim de todas as políticas públicas do país, explica Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, organização da sociedade civil que defende os direitos educacionais.

- Podemos comemorar os números da Pnad?

Não. A queda na taxa de analfabetismo, de 0,3% (acima dos 10 anos), e o aumento da escolaridade (entre 6 e 14 anos), de 0,1%, são muito pequenos. No caso do analfabetismo, o Brasil está 10 anos atrasado - a erradicação estava prevista para a década seguinte à Constituição de 1988. Caminhamos lentamente.

- Quais são os maiores entraves para erradicá-lo?

O Brasil precisa ter consciência de que os "remédios" usados até agora não surtiram efeito. Os investimentos em alfabetização do Ministério da Educação estão sempre aquém de outros programas. Precisamos também de novos arranjos pedagógicos. Os que existem não seguram o adulto analfabeto na escola, porque depois de uma vida inteira fora dela, fica difícil para ele se identificar com esse ambiente. O maior problema é que a educação não faz sentido na vida dessas pessoas.

- E como desenvolver nelas o interesse pela educação?

A sociedade brasileira não vê a educação como um bem. Isso se dá somente no âmbito pessoal e familiar. Quando analisamos o todo, percebemos que aqui não se valoriza a educação. No caso dos analfabetos, temos de fazer com que eles percam a vergonha de uma culpa que não é deles, mas sim de um problema estrutural de governo que se arrasta há décadas. E isso se dá no ambiente comunitário, incentivando a autoestima deles. Um cidadão não educado atrapalha a sociedade.

- Como podemos avançar nas taxas de escolarização?

Quem está fora da escola são, basicamente, crianças com deficiência. A solução não passa apenas pela educação, mas sim por áreas como saúde e assistência social. E também pela maior transferência de recursos da União para os municípios - são eles quem vão identificar e cuidar dessas crianças.
(O Estado de SP, 9/9)

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