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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A excelência do ensino médio alemão

A excelência do ensino médio alemão

Modelo profissionalizante, em que jovens estudam tanto em escolas quanto em empresas, é considerado nota dez
Um estudo recente divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) criticou a Alemanha pelo pouco acesso dos jovens às universidades mas deu nota dez para o ensino profissionalizante, o chamado Sistema Dual, que é um dos melhores do mundo e a espinha dorsal da economia do país.

O sistema garante uma porta aberta para os jovens no mercado de trabalho e, para os adolescentes de famílias mais pobres, a possibilidade de um salário de 300 a 1.000 euros por mês já durante a aprendizagem.

Os cursos, feitos depois de dez anos de escolaridade básica, em escolas profissionalizantes e nas próprias empresas, simultaneamente, tem duração de três anos e um exame de conclusão que é igual em todos os estados. Assim, o status de um diploma é o mesmo em toda a Alemanha.

- Poucos países na Europa oferecem aos jovens um acesso tão livre ao mercado de trabalho quanto a Alemanha - afirma Werner Eichhorst, do Instituto de Pesquisa do Futuro do Trabalho, de Bonn.

O Sistema Dual, como é chamado, existe desde a primeira metade do Século XX mas foi reforçado, há poucos anos, com um acordo firmado entre o governo alemão e as empresas, que obriga estas últimas a oferecer vagas de aprendiz. O "Pacto de profissionalização", assinado em 2004, acaba de ser prolongado por um período de quatro anos até 2014 pela ministra da Educação, Annette Schavan.

- Nossa prioridade é o amadurecimento da profissionalização e a melhoria da orientação profissional - disse a ministra.

Para acompanhar os iniciantes, o ministério contratou mais mil orientadores para atuar junto aos adolescentes nas escolas profissionalizantes e ajudá-los a achar a empresa certa para realizar a parte prática do curso.

O sistema de ensino profissionalizante na Alemanha é tido como referência europeia. Alguns países do leste europeu assinam acordos para mandar seus adolescentes aprenderem uma profissão em uma cidade alemã. A Turingia, na extinta República Democrática Alemã (no leste), tem um programa que oferece profissionalização para jovens do leste europeu.

Mas o lado negativo do bom sistema profissionalizante é que a Alemanha é o país onde o acesso dos jovens às universidades é o menor da Europa, contemplando apenas um terço deles. Em outros países do continente, a quota de universitários é 10% maior.

Segundo Werner Eichhorst, um dos motivos é a facilidade oferecida aos jovens que optam pela profissionalização. Já os universitários precisam pagar taxas e se autossustentar durante o prolongado período de estudo, que fica ainda mais caro quando a vaga conseguida é em uma universidade de outro estado, distante da família.

O resultado do desequilíbrio é uma carência de profissionais com curso superior. Se nos anos 60 e 70, época do "milagre econômico", a Alemanha "importava" trabalhadores simples, muitos da Turquia, para fazer o trabalho que os alemães não queriam mais fazer, como coleta de lixo ou trabalho para mão de obra não especializada, hoje o governo cogita facilitar a contratação de especialistas com diploma universitário. Sobretudo em profissões técnicas - há uma escassez de engenheiros, por exemplo. Os cálculos do governo são de que, dentro de três anos, o déficit será de 85 mil engenheiros no país.
(Graça Magalhães-Ruether)
(O Globo, 30/10)

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